quinta-feira, 7 de março de 2013
Viagem
Eu solto meu corpo
e escorrego para dentro de você,
num transparente azul tão profundo
que é quase como antes do nascimento,
antes da gestação,
antes de qualquer coisa.
Acredito em coisas invisiveis,
coisas que foram moldadas em palavras,
amor, respeito, entendimento, aceitação,
as sinto em mim,
é como a musica de fundo
do roteiro da minha vida.
Eu sei que sou uma pessoa que não vai a lugar algum,
sei que sou uma pessoa que anda em circulos
de livro a mão, olhos fechados,
labios entreabertos murmurando,
soltando suspiros longos.
Gostaria de ser uma grande arvore,
vigorosa, milhares de folhas, liquens,
raizes que saltam da terra
e se espalham em todas as direções,
com nichos para abrigar corujas e esquilos.
Mas eu não sou,
na verdade eu não sou tanta coisa,
fica bem dificil participar de algum clube
de mutuo interesse.
Eu não sou muita coisa bela,
eu não sou muita coisa bestial,
eu não sou muita coisa imprevisivel
e previsivel também,
eu não sou água, terra, fogo e ar,
não sou luz e também não sou escuridão.
Mas eu tenho,
eu tenho por enquanto muita coisa,
eu tenho muita coisa bela, bestial, imprevisivel, previsivel,
eu tenho as palavras magicas para conversar
com a agua, terra, fogo e ar,
e eu danço na luz
e finalmente aprendi a dormir na escuridão.
Ter é mais exato,
posso fazer uma lista incrivel do que eu tenho,
tenho centenas de certezas
e milhares de incertezas,
e tenho um espaço onde posso ser nada
e tudo ao mesmo tempo.
Então eu mergulho,
solto meu corpo
e escorrego para dentro de você.
San, 07/03/13