Eu guardei os tapas que você me deu,
aqueles que eu recebia
sempre que perguntava - por que?
Guardei também os lenços
com sangue que saia do nariz
sempre que você me virava
de cabeça para baixo
para ficar quieta.
Eu guardei os pratos vazios
esperando a boa comida
prometida.
E guardei também
os pratos sujos
da porcaria recebida.
Guardei as roupas velhas
para serem consertadas,
os sapatos dos outros,
que poderiam servir,
as meias furadas
para cerzir.
Esta também guardado
todas as bulas de remédios,
unhas aparadas, receitas,
cabelo cortado,
pedras da visicula,
cartão de vacinação.
Eu guardei seu grito
durante a noite,
durante a noite,
suas cusparadas
nas minhas costas
quando saia,
quando saia,
os queimados
com garfo quente.
Guardei de tudo um pouco
até preencher
todos meus espaços,
todos meus espaços,
todas as lacunas,
todas as duvidas,
calar as necessidades.
San, 14/03/13