terça-feira, 30 de agosto de 2011

Summer Day


Os seus girassóis 
relaxam as alças do DNA,
e talvez seja exatamente isso,
recriamos a vida.

Parceiros e deuses
atualizados,
seguindo a matemática,
química e lógica
o nosso Gênesis.

Sem precisar de Arcas,
chuva de fogo,
vergonha, vestes, desterro,
teremos nosso Éden imaculado
finalmente perfeitos.


San, 30/08/11

Barbara


Renego o seu amor
e reescrevo meu destino,
em palavras duras
e risadas de escarnio
lhe torturo.

Não vou me entregar
e nem posso viver
longe de você.

É disso que é feito
minha substância
o aço frio 
dessa amarga 
lembrança.

Nada me fará erguer meu rosto
para acompanhar seu desterro.

O amor corrompido,
burilado em fogo,
moldado em dor,
lagrimas de desgosto
para ferir seu rosto
e não ser amor.



San, 29/08/11

PISCES


Somos dois eternos conflitantes,
completos estranhos,
unidos e separados,
amigos e amantes.


E cada um é do outro
bloqueio e propulsão,
visão e cegueira,
atados pelos nós
do amor e confusão.


Assim é nossa essência
eternos nadadores
da consciência mistica,
corpos negando corpos
mágicos executores.


Toda vida é nossa criação
e sentir todos os seres
é nossa maldição,
apegados ao que executamos
nunca sairemos
dessa nascente,
onde morreremos.




San, 30/08/11

Bossa Nova



Um papelzinho de bala
na minha agenda perdida,
tão amassado da vida,
é a lembrança
de que tudo que eu fiz
foi só para você me amar.

Cresci, me expandi, trabalhei,
evolui, casei, descasei,
criei tanta vida, curei as feridas,
pintei e bordei,
e todas as coisas que eu fiz.

Será que não me notou?

Enfim a vida é assim,
pois tudo que eu fiz,
pode acreditar,
foi só para você me amar.

Naqueles momentos tão doces,
crianças brincando,
nem parecia que um dia
eu saberia,
como as arvores florescem,
e é assim
tem coisas que nunca vão mudar,
pois toda a vida que eu tive
foi só para você me amar.



San, 30/08/11

Na praia


Todo grande homem
tem seu dia de moleque,
de gazeteiro, surfista,
dia do saco cheio,
ficar simplesmente
olhando as pessoas
que passam.

Acho que já existiu um tempo
em que grandes ocupações,
de amplo alcance,
eram vistas como uma imensa
prazerosa oportunidade,
não tinham o peso atual.

Hoje para fazer a mesma coisa
esticamos a língua no chão
de tão estafados,
como um estranho aumento
da gravidade,
tudo se tornou muito sério.

É muito estranho hoje
imaginar um gênio livre
de fobias, medicamentos,
contratos, currículo, 
lista de estudos a publicar,
metas de ascensão social.

É tão dificil imaginar
simplesmente ali,
solto, leve,
assim na praia,
como quem começa o dia
sossegadamente,
cheio de prazer
pelo seu próprio mundo.


San, 30/08/11

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Comédia dos acertos

Quando não sei alguma coisa
eu invento,
odeio a vida
sem qualquer explicação.

Não que eu julge
saber tudo,
ter todas as respostas,
mas não suporto pensar
que existe algo
totalmente inexplicavel
e misterioso.

Sei que um dia
para tudo havera
explicação
e vou me adiantando
nessa comédia
da falsa sabedoria.

E surpreendentemente
muitas das minhas estórias
as vezes se tornam histórias,
e me espanto quanto o homem nescio
iletrado, pequeno,
como eu
pode acertar assim no chute.

Então escondidinha
fico refletindo
se a nobre ciência
não seria apenas
o chute dos grandes gênios.

San, 23/08/11

Walking


Quando eu não podia andar
PERNAS me parecia uma palavra
muito sedutora e mágica.


Parecia ter todo o poder do mundo,
a capacidade de romper ciclos,
criar experiencias, estados, situações.


Eu sonhava com pernas,
pernas que tinham também asas,
me levavam a lugares inacreditáveis,
o lado mais inóspito do Himalaia,
um templo perdido na Birmânia,
perto de uma fogueira 
nos acampamentos dos sertões.


Não havia limites para aquelas pernas,
apesar do médico tentar me explicar
exaustivamente,
que as pernas recebem 
impulso elétrico do cérebro
através de uma rede no corpo todo,
e que bastava uma pequena curva, 
nó, rompimento,
em algum desses nervos
que as pernas ficariam bobas,
sem força, futuro, 
determinação, utilidade.


Mesmo assim eu não duvidava
do poder das pernas,
estava acima de qualquer razão,
estudo neurológico,
certeza matemática,
eu tinha uma inabalável fé 
nas pernas.


Elas já haviam me conduzido até ali,
seriam elas que iriam
me levar para longe também.


Primeiramente
tive que educar as pernas,
treina-las, força-las,
relembrar os tempos de criança
re-aprendendo a andar,
bambear, cair, levantar.


Eu cantava para as pernas,
musicas sem tradução lógica
mas de grande definição emocional,
e me imaginava dançando
num bar no Missouri,
sei lá por que,
junto com Etta James
- sei que ela me compreenderia!


E então minha confiança
e dedicação as pernas
não foram em vão,
a vida voltou
com os movimentos.


Depois de voltar a andar
eu nunca fui
ao lado mais inóspito
de coisa alguma.


Eu fui diretamente para casa,
para minha cadeira,
e tenho me mantido assim
sentada, lendo, escrevendo.


Pernas adormecidas,
as vezes ralhando comigo,
inchando, dando câimbra,
coceiras, pontadas, cutucando.


Agora entendo o médico
quando ele dizia
que somente as pernas
não garantem o movimento,
- elas são uma parte! ele dizia.


As pernas esperam,
entendiadas e mortificadas,
enquanto eu procuro
o santo gral da intenção,
o rastro de luz, energia, 
a fagulha da movimentação.




San, 29/08/11

Don Quixote


Consiga romper
as armadilhas
tecidas pelo tempo.

Corromper
a lógica cartesiana,
insuflar ar
no coração atrofiado,
atiçar calor 
no corpo petrificado.

Consiga sobrepujar
todos os truques,
pequenas armadilhas,
setas tortas,
placas falsas,
rua sem saída.

Consiga vencer o medo,
domar o tempo,
reescrever a vida,
reeditar o amor.


San, 01/02/86

ODEIO QUIMICA !


O Prozac acabou com a poesia!

Sim, agora enterremos
essa antes amarga Deusa
infeliz e fragilizada
com o mundo desgovernado
maldoso e incoerente,
onde amores vem e vão,
e pessoas são traídas
pelos melhores amigos.

Dela não ouviremos mais
seus profundos ais,
e lampejos da sabedoria
que só a vivencia
da perda e tormento
permite o conhecimento.

Assim seja !!!!

A embrulharemos 
com a mortalha
da vida que sempre 
tem que ser satisfeita,
perfeita, brilhante, 
luminosa, delirante.

Será banhada, perfumada,
vestida, penteada, maquiada,
e assim estará para nós 
irreconhecível,
tão bela, cômica,
tão indelicadamente feliz.

E eu rasgarei minhas roupas
em convulsão e gritos, 
uivos, lamentos,
porque lhe amei 
soberbamente,
vivi com você cada minuto,
a cada dia.

Você foi soberana
em minhas intenções e sentidos,
a unica que me deu motivo
para mais um dia.


San, 29/08/11

Numeral


Quinta feira é um ótimo dia,
é o dia do otimismo e da segurança.

Mas hoje é segunda feira,
o dia da atrapalhação,
das coisas que não dão certo
e que exigem o dia todo,

O dia em que sinto que tudo que faço
é inócuo e mesquinho,
em que não conheço e nunca conhecerei
os motivos do universo
e do meu coração.

Então vamos pular para quinta feira
o BIG DAY :

Quinta feira é o dia em que tudo
parece tão tranquilo
e aparelhado com minha alma,
eu respiro a largos passos
sem me sentir sufocada, 
oprimida ou desvitalizada.

Esse é o poder das quintas feiras:
ELAS MENTEM PARA MIM !!!
E EU ACREDITO !!!

Mas voltemos para as segundas :

Nas segundas eu mergulho no fracasso,
sem direção eu vou e volto
na mesma coisa que não tem sentido,
a direção da ponte caída
a rua sem saída.

Na segunda eu sou apenas mortal,
ansiosa, nervosa, apavorada,
afobada, insatisfeita, infeliz.

Mas então surgem as quintas
e elas vem cantando um velho rock
daqueles que lhe dizem 
- Sim, eu já me senti como você baby!

Você consegue rir disso,
tudo fica mais leve,
como quando você esta na beira
de um penhasco
e nem pensa em pular
mas só jogar pedrinhas.



San, 29/08/11



domingo, 28 de agosto de 2011

Incerteza principio virtuoso



Desafio meu corpo
com a prerrogativa
da liberdade,
e ele dóí. 

Sou traída pelo desejo
de ser amada e aceita,
e ai não me reconheço.

SOU PÁSSARO !

SOU CRIANÇA PERDIDA !

SOU MULHER AMADA !

Um minueto toca ao fundo,
ouço outros sons de coisas
que não estão aqui,
tenho medo
de ultrapassar essa linha.

Me deito na NORMOSE
e acordo com escoliose,
destituída do poder
de soltar meu corpo,
ele doí.

A incerteza
é um principio virtuoso
diz a filosofia.

O medo não.


San, 27/08/11

Mil palavras


Ao abrir a hermética caixa pensamento
as palavras voam em gostosas risadas.

Apavorada pela minha imprevidência
eu vou atras delas,
com minha rede de capturar
borboletas fêmeas pernósticas.

Elas fogem, é claro!

Quem não fugiria?

Em sã consciência quem desejaria ficar
sentada em frente a tv desligada,
em silêncio, sem se mexer?

Tento capturar DISCERNIMENTO,
que já vestido com um blusão de pele
e capuz vermelho
vai em direção ao Canadá.

Busco resgatar
RETIDÃO e CONFIANÇA,
elas zombam da minha inabilidade,
parece que é preciso
ter tidos pais amorosos e presentes
para ter esse poder agora.

E sou ultrapassada tantas vezes pelo FOCO
que volteia pelo meu corpo
em cambalhotas circenses suicidas
que me quedo ao obvio:
eu não tenho controle de nada,
eu não tenho o minimo controle.

Não tenho mapas,
não entendo os gráficos,
quebrei a bussola,
realmente não sei
o que estou fazendo aqui.


San, 28/08/11

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Minha disciplina


Tenho tão pouco
mas com você
sei que serei grande
e nada me afetara.

Encontrarei meu eu,
meu eixo, minha disciplina.

Com você
todas as canções 
serão mantras,
e as palavras
máximas da sabedoria.

Todas as oportunidades
serão de crescimento,
renovação e cura.

Em você a vida se faz,
a vida que nunca foi
somente minha.

Finalmente saciarei
aquele meu eu esquecido,
que ficava gesticulando afobado
em busca da minima atenção.

Todas as vergonhas e erros
serão lembranças 
que não me afetarão,
apenas percalços 
antes da libertação.

Com você
sairei do limite,
do ego, do erro,
passarei a transição.




San, 19/08/11

Abandono


De tantos não ter
chegamos ao não ser
as cômicas des-lembranças,
angustias de velhos-moços
toscas pessoas que não mais se desejam.

Retiro agora minha mão do seu futuro,
minhas linhas não se trançam mais
em absolutos absurdos
o amor impossível, impassível, intolerável
inventado pela nossa mente insaciável.

Retiro minha boca do seu espelho-jogo,
não mais lhe darei meu oxigênio,
intransigente agora
me conforta pensar
na sua corrida desabalada 
em busca de ar.

Não lhe darei animo,
não sou mais sua parceira no jogo
das sombras-vivas.

O amor acabou,
acabado esta,
o abandono chegou,
bem vindo o desconforto.


San, 24/08/11

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Forma


Faça a faca escorregar macia
sobre a pele translúcida e fria
até despontar a forma da mentira
e revelar seus sentimentos.

Não posso lhe dizer 
como me sinto agora,
existe perigo 
em ficar atenta.

Faça a faca trazer o sumo,
a polpa firme esgarça na beirada,
e vem o choro,
alivio e contentamento.

Eu não quero me prender
apenas a uma forma,
vencedor-vencido,
monstro-ser divino,
eu não quero ter 
esse único destino,
apenas flutuar
no esquecimento.

Fala a faca:
- Vou lhe trazer do limbo !


San, 17/08/11

Pescadores


No principio você quis precisar de mim,
nosso Gênesis foi participativo e engajado.

Depois veio o Êxodo
e tudo de nós dois se espalhou
aos quatro cantos do mundo.

Teria que ter havido um tempo de Levítico,
as coisas bem expostas e reconhecidas,
no entanto fomos diretamente para Números,
você comprou sapatos e armários novos,
eu troquei o carro e a mulher da cama.

Deuteronômio, Samuel, Reis,
pulamos etapas,
quase subvertemos a ordem.

Mas fiquei sabendo
que teve um bom tempo em Crônicas,
mastigando e rasgando a carne ferida.

Esdras, Neemias, Ester, Jô,
e enfim nos reencontramos em Salmos...

A tua palavra é lâmpada
que ilumina os meus passos
e luz que clareia os meus caminhos.

E um dia simplesmente
nos despojamos dos velhos credos
pegamos a barca rasa até a Galileia,
jogamos nossa rede
e o amor voltou.



San, 17/08/11