Eu senti o exato momento
em que meu coração
foi atingido,
eu estava vindo
a 20 por hora
e a vida a mais de 300.
Não me lembro de ter passado
no sinal fechado
ou algo assim,
ali não havia placas
ou alguma sinalização.
A intensidade do impacto
calou meu corpo
e minha mente se deslocou,
fiquei a deriva,
observando a mim mesma,
estupefata e sem ação.
Quando me dei conta
já era tarde
meu coração
tinha se partido.
A dor me acompanhou
quando disse
para mim mesma
que tudo estava bem,
quando voltei para casa
para minha vida normal,
comer, dormir,
acordar, trabalhar.
Os cacos não se juntaram,
coração não é um vitral
que passa luz
mesmo estando
em pedaços.
E então ele foi agonizando,
morreu e foi apodrecendo,
lá por dentro
foi saindo aquele fel,
aquele cheiro de coisa
que não presta mais,
e eu tentando
continuar a viver.
Um dia percebi
que tinha um vazio,
um oco naquele lugar
onde estava o coração,
e veio uma falta de gosto,
tédio, desligamento,
o mundo ficou nublado,
sem cor, cheiro,
sabor, intenção.
Então apareceu a doença
não para acabar de vez
com aquilo que tinha se perdido
mas para perder de vez
aquilo que tinha se acabado.
E assim agora eu vivo,
sem coração
sendo isso possível,
viver assim
sem coração.
San, 06/08/11