domingo, 19 de fevereiro de 2012

João e Maria



Deixei um rastro tão obvio
ao longo do meu caminho.

E mesmo que esteja tão cego,
certamente me encontrará.

Eu canto para você,
por você faço poesia,
e coloco um prato a mais a mesa
todos os dias.

Juro
deixei meu mundo para trás.

Será que conseguirá me perdoar?

Será que conseguirá me ver?

Será que conseguirá me alcançar?

E me reconhecer?

Temos tanta solidão juntos,
temos tanta dores partilhadas,
tememos os mesmos inimigos,
ilusão, dor, emboscada.

Não tenho mais palavras para você,
não tenho mais pétalas para jogar,
o tempo agora é outono,
quiserá que você pudesse me encontrar.



San, 19/02/12

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Me faz hoje

Posso curar

seu tolo

coração,

me faz assim

melhor hoje.


Posso ouvir

os sons

da sua eternidade

me faz assim

fim do

mistério,

hoje.


Não há vida

depois de mim,

não há vida

entre outros mins,

sei que tudo

lhe parecerá

absurdo.


Vem dançar

colada

no meu corpo

e me deixe

cantar sua alma

esquecida,

me faz hoje,

me faz hoje,

por toda a vida.




San, 02/02/12

Esquizofrênica


Eu lhe vejo todos os dias,
desnuda, quebrada, sibilante,
preparada para o golpe.

 Colagem de fragmentos
descontentes,
pais deprimentes,
quem cala pressente.

Sobreviver entre rastros,
esconderijos,
 então o som de queda,
choros, bofetadas,
musica alta no vizinho.

Mas mesmo que a boca não fale,
o todo corpo espalha,
a palavra não dita,
mas sentida,
perdida,
esquizofrênica,

Então pega nessa mão descrente
e joga no papel caduco,
velho embolorado,
truco,
grita seus sonhos 
persistentes.




San, 06/02/12

NÃO TE AMO MAIS !!!!!


No principio não haviam
verdades ou mentiras,
vivíamos sem parâmetros,

Não havia nada
com que se comparar,
analisar, medir, observar,
as coisas simplesmente eram.

Então surgiu seus lábios com idéias,
muitas, varias, diversas,
toda uma escala de comparação,
que me obrigava a escalar
um Monte Everest por dia,

E foi assim.

Cansei de subir, rolar, cair,
vencer um obstáculo
para mais outro e outro e outro
tentando chegar ao seu lindo e perfeito
lugar imaginário.

EU NÃO TE AMO MAIS !!!

Quero fazer eco
aqui na minha caverna ancestral
onde não preciso do seu aval
para viver aquilo que já vivo,
onde não terei que sentir seu gosto imaginário,
onde todas as verdades e mentiras
podem ser afrontadas.

Me aconchego no silêncio,
enfim em mim.


San, 03/02/12

Meus motivos


Eu só consigo dormir quando chove,
preciso do som da terra se banhando.

Fiquei meses acordada
entre os dias ensolarados
e as noites calorosas
sonhando com o frio e o vento.

Todas as noites eu prometo
que sairia sem rumo
apenas pelo prazer de me molhar.

Meus motivos saltam no futuro,
um futuro que talvez não aconteça
mas foi claro demais para mim.

Meus motivos são insanos,
eles temem fazer terapia,
não confiam na cura.

E as mentes simples,
do agora, deste ano, desse milênio,
não sabem o que é viver 
toda uma vida sem chuva.


San, 05/02/12

Sertão



A chuva cala
a voz rouca e triste
da secura constante
e sorrisos brotam
da barriga.

É hora de colocar
café para ser coado,
pão de queijo para assar,
cortar pé de moleque.

É hora de viver
a vida que estava
em ritmo de espera
pelas gotas gordas
que descem do céu.

E os cachorros correm 
pelo quintal molhado,
comem mato fresco,
fazem patas no barro,
do seu jeito comemoram 
a vida que continua,
a vida sem medo,
a vida com água.

Então eu me sento 
na velha cadeira de praia,
molinete na mão
lanço a linha para o alto
pescando nuvens,
outros dias,
esperança.


San, 06/02/12

Diaspora



Por que você me deixou pelo caminho?

Como uma semente cuspida 
depois de sorvido o sumo,
só faço esperar, confiar, 
expandir, crescer,
romper todos os obstáculos
para chegar até você,
para chamar sua atenção.

Como frondosa árvore 
carregada de flores,
se um dia novamente 
tomar essa mesma estrada.

E apesar de tantas viagens,
deixei de querer ser 
partícula em você,
deixei de lhe odiar,
deixei de lhe amar,
deixei de tentar entender 
seus motivos profundos.

Vivo agora 
pelas aparências rasas,
vivo sem precisar
crescer a partir de ti.

San, 06/02/12

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Eu lhe espero viajante


Nos imensos espaços gelados
eu lhe recebo esperança,
vestida como o sol da primavera,
promessa de calor, amor, compaixão,
eu lhe espero viajante.


Um outro dia eu vi seu rosto pelo vidro
como uma fagulha entre tantos brancos,
sorria do meu desejo imediato,
estava acordada,
disso tenho certeza
você sempre existiu em algum lugar,
mesmo que não seja aqui.


E no dia em que nasci
você me abraçou no berço
e cantou musicas de terras distantes,
sons coloridos, carnudos, 
doces, extravagantes,
para me ajudar a sublimar
tantas noites escuras.



San, 04/02/12

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ritmico e incessante



Eu danço
porque dançando
se pode fazer
silêncio,
e na falta de som
posso expressar
todas coisas,
sem que você
se sinta agredido.

Porque dançando
eu posso voar,
cair, machucar, soltar,
prender, correr, parar,
e voltar inteira.

Então eu danço.

Dançar contém
a liberdade absurda,
e profunda
da falta de palavras,
não é preciso concordar,
aceitar, entender,
participar, refutar,
então eu danço.


Samy, 31/01/12

MUDEZ

Ultimamente
é quase intolerável
ouvir as palavras.
Construídas
e tratadas
de forma absurda,
por motivos escusos,
no porte de arma.
Pleonasmo
da estupidez,
insignia
do vazio.
As palavras ferem,
meu corpo,
meu espírito,
o sentido da minha vida.


San, 31/01/12