quinta-feira, 17 de julho de 2014

Cantando no escuro


Eu estive
eu estou
eu estarei aqui
em algum momento,
e todos meus eus se esbarram
mas não se reconhecem,
ou se veem
mas não se tocam,
ou se tocam
mas se diluem.
E assim assumo
que sou esse formidável nada
esse maravilhoso prospecto
de ser humano
idealista e idealizado.
As risadas que caíram da beirada do mundo,
os suspiros presos dentro do peito,
um choro de lagrimas silenciosas,
um susto de repente sem motivo aparente.
Sim
eu estive em todos,
em todos os momentos
e nenhum momento,
não me percebo
e sou vista,
não lhe escuto
mas respondo suas perguntas.
Sim
estarei aqui
minuscula entre suas grandes pegadas,
um flor amassada,
uma nuvem carregada pela tempestade,
um facho de luminosidade
no meio de uma densa floresta.
Aquela que não importa
nem mesmo para si mesma,
alguém que canta distante
a mesma canção por anos
monossilábica,
monocórdica, 
atenta e dispersiva,
real e imaterial.
Sim
eu sou,
serei
e fui.

San, 17/07/2014