terça-feira, 5 de março de 2013

Da boa fé do povo



O amor bem resolvido
não interessa a ninguém.

Queremos jogar a pedra,
queremos gastar a língua,
ficar nos bares contando detalhes.

Queremos levantar a cruz,
fazer o talho,
queremos o inferno
para aqueles que escolhem
aquilo que não escolheriamos,
ou que tornam publico
a mordida gulosa no fruto proibido.

Queremos o amor complicado
que desgasta, surta, causa assombro,
melodramático, perigoso, feio, espantoso,
queremos comentar os comentários
do telejornal, da gazeta matinal,
da revista que cutuca a vida dos outros,
dos programas de escarnio.

Amor impuro, sujo, arriscado,
amor chifrudo, arisco, descartado,
amor que usa, abusa, não manda recado,
amor que vira do avesso,
faz perder o rumo,
corrompe o coração
e se chafurda no pecado.

O amor bem resolvido,
nos moldes, bem comportado,
não atende nossa necessidade de maldade,
nosso anseio de justiça crua,
nosso desejo de linchamento,
nossa mão com pedra,
nossa boca dura.



San, 04/03/12