Sempre me considerei uma pessoa estranha,
bela, mas estranha, interessante, mas estranha,
para alguns sou útil, um anjo, especial, confiável,
para outros sou louca, desorientada, mentirosa, perigosa,
mas para todos sou estranha.
Na maior parte dos meus sonhos me vejo nua,
caminhando, conversando, trabalhando,
as vezes urinando em público,
em outras tomando banho,
trocando de roupa,
sempre descalça.
Isso pode parecer sem nexo
mas eu me sinto assim
nua, totalmente exposta
muito nua, sem proteção.
Ao mesmo tempo sei
que ninguém me vê ou conhece,
ninguém consegue perceber a pessoa
que eu afrontosamente exponho,
isso porque tal coisa é atípica demais
para ser assimilada ou entendida.
Então de alguma forma eu incomodo,
com que falo, mesmo que seja irrelevante,
com minhas crenças, mesmo que pareçam confiáveis,
com minha presença, mesmo que não seja notável,
até e apenas olhando fixo por alguns segundos
já assustei algumas pessoas.
E sendo sincera eu não me prendo a ninguém,
eu não vejo os corpos, as falas, as posturas,
as mentiras que são contadas constantemente,
eu vejo além, com e através delas,
portas que se abrem a mundos inacreditáveis.
São mundos de bolhas coloridas que pulsam
e fazem trocas com tudo a todo instante,
mil formas diferentes iluminadas ou escuras,
que planam, voam, rastejam, se espalham,
tomando ou tornando aquilo que tocou
um pouco ou essencialmente diferente.
E apesar de estranha espero que não seja impar,
mesmo vivendo assim extremamente solitária,
espero que outros como eu estejam por aí,
igualmente estranhos, igualmente nus,
igualmente maravilhados
com a visão plena.
San, 06/05/2015