terça-feira, 5 de maio de 2015

Por tanto mar eu vim


Quando era criança tudo era muito confuso a minha volta
as pessoas eram como o mar com marés altas e baixas
cheias de pequenos detalhes 
que às vezes não conseguia entender
pois moravam bem no fundo de suas almas

Então eu me refugiava nos livros
pois eles tinham paginas numeradas
eu sempre sabia até onde deveria ir
isso eu nunca soube com meus pais

Nos livros se eu não entendesse algo
poderia sempre voltar e ler novamente
mas não era assim na vida real
na vida real eu tinha apenas uma chance
e seria julgada eternamente por ela

Quantas e quantas vezes eu me senti paralisada
aterrorizada não pelo que sentia
mas como seria interpretada pelas pessoas a minha volta
como seria julgada e classificada 
esse era um peso muito grande para carregar

Os livros estava ali sempre tranquilos
não me julgavam, não se importavam com quem os lia,
se alguém os entendia, se eram agradáveis ou não.

E os livros poderiam ser de romance, aventura,
didático, suspense, ficção, histórico, policial, 
mas na minha vida tudo era apenas drama.

Eu cresci vivendo numa unica pagina,
que não saia de lugar algum e em nenhum lugar chegava,
uma unica pagina que sempre que tentava virar
ela voltava ao mesmo lugar
como se todas fossem coladas.

Os livros foram meus terapeutas, amigos, companheiros,
os livros foram meus exemplos, professores, orientadores,
os livros foram minha bussola, minha sextante, as velas.

No mar revolto da dor onde eu cresci
os livros foram minha tabua de salvação.


San, 01/05/2014