Continuo a viver sem dar atenção
as palavras, conselhos, resmungos,
dicas, ameaças, sermões.
Continuo a virar o pescoço
para todos os lados,
soltando gradativamente
as viseiras familiares, religiosas,
étnicas, comunitárias, sociais.
Continuo sendo uma pessoa que não se adapta,
essa pessoa sem lugar ou função específica,
essa pessoa cheia de duvidas e perguntas,
essa pessoa não definida.
E ao invés de falar eu canto,
eu canto para aquela parte temida ,
soterrada, ignorada, não entendida,
aquela parte brilhante e formidável
que todos tem,
para que me ouçam e saibam
que existe um outro ser realmente vivo.
Eu continuo pela minha voz,
por aquilo que não digo
mas alguém escuta.
San, 29/03/2015