Quando minha mãe morreu
o dia ainda não tinha nascido,
era uma dessas horas frias
do final da madrugada
em que o vento assovia
e os boêmios começam a tropeçar
para suas casas.
Quando minha mãe morreu
estava sozinha na cozinha,
deitada sobre o piso recém lavado
e ainda cheirando a eucalipto.
Seus cabelos
estavam presos
num coque
como de costume
e estava sem batom.
Era um dia
no meio da semana,
a geladeira estava abastecida,
as roupas dobradas
dentro do cesto de vime,
a luz de fora não estava acesa,
as louças imaculadamente limpas,
quando minha mãe morreu.
San, 28/03/2015