Gostaria de lhe oferecer uma poesia bonita
mas no momento tenho apenas esse arroz com feijão,
temperado é verdade,
mas ainda assim bem simples.
Verdade também que estou cansada
das palavras, das virgulas, dos acentos,
de toda regra gramatical
e do gênero humano.
Bem cansada de precisar suavizar o que digo,
de tentar entender de outra forma o que ouço,
de não ver com maus olhos o que é realmente feio,
de ficar na minha baia cuidando apenas das minhas coisas.
Acho que é por isso que a poesia tem murchado
e poucas folhas tem surgido,
tenho precisado inclusive me alimentar fora
para conseguir me sentir realmente viva.
Ganhei a pouco um pedacinho de terra
e estou adubando com François Villon, Ana Gorria,
Matsuo Bashô, Margarita Aliguer, Yehuda Amichai,
mas dependo das monções do outono para que algo brote.
Gostaria de lhe oferecer algo fino e raro
que pudesse lhe transportar para admiráveis paragens
mas no momento tenho apenas simples poesias
feitas de suor e barro.
San, 30/03/2015