Estou moída,
já ultrapassei o fadiga costumeira,
e sem cuidado
apodreço rapidamente.
Cada dia é um aperto no nó,
cada dia é uma topada de levantar a unha,
cada dia é uma nova alergia,
uma coceira que já esta em sangue.
Antes conseguia rir das coisas,
fazia pilhéria do meu próprio desespero,
caretas para as contas atrasadas,
mostrava o dedo para os medos absurdos.
De repente mudou tudo,
minhas pernas ficaram doloridas
passei a andar claudicante,
meus olhos embaçam
de perto e de longe,
foge a lembrança das coisas mais simples
junto com a capacidade de executa-las.
Agora olho o mundo a minha volta
com suas respostas prontas
que tanto não me servem,
oferecendo ajuda
a preços módicos,
o esquecimento fácil e inútil
e me sinto magoada.
Poderia ter sido diferente
mas fui inconsequente?
Onde estive realmente
nesse tempo todo?
Esfarelada vou sendo moldada
em algo que ainda desconheço,
amassada pelo cotidiano,
necessidades e verdades,
descobertas tardias
que ainda não sei usar.
Estou sendo triturada pelo tempo
com sua mão insensível,
certeira e pesada.
San, 02/11/2015