segunda-feira, 13 de abril de 2015

Testamento

Deixo apenas
uma caixa
de anotações,
poesias,
lembranças,
musicas,
lágrimas,
rabiscos
e perguntas.

Em volta
a ausência
de luxo,
desejo,
marca,
ostentação,
ego,
excesso.

Em todo canto
a suave presença
do vento,
incenso,
tranquilidade,
livros,
pedras,
conforto,
cheiro de mato.

Deixo 
pequenas coisas
que ocupam 
grandes espaços
emocionais,
e um silêncio
que transmite
um conhecimento
antigo.

Tudo isso é memória 
de quem não fez história, 
não teve uma vida extraordinária, 
relevante, exuberante, diferente,
que vale a pena ser lembrada
por toda gente,
alguém que não virou 
nome de rua ou estrada, 
feriado ou ponto facultativo.

E ao ver minhas coisas
talvez entenda meu juízo
ou falta,
ao olhar as páginas 
sinta a vida que se revela,
triste, doce, melancólica, cálida,
a reconhecendo ou desprezando,
entendendo ou ignorando,
aceitando ou rejeitando.



San, 13/04/2015