segunda-feira, 13 de abril de 2015

I can not


A cada dia perco uma parte
daquilo que julgava correto,
coerente, definitivo, real
em mim.

Vão desaparecendo,
camadas e mais camadas,
como uma cebola 
sendo descascada
pela ação da solidão,
pela falta de sintonia
com qualquer coisa.

Às vezes dói,
às vezes me alivia.

Observo, analiso, questiono.

Quem era a pessoa 
que esteve aqui ontem,
e no mês passado, 
no ano retrasado,
a 10 anos atrás?

Do que era feita?

Tenho medo de me tocar
para saber minha atual textura,
apenas observo o que cai,
seco, áspero, descolorido.
pedaços da propaganda enganosa
que um dia fui eu.

De noite ao me deitar
de olhos bem fechados
me imagino sendo desenhada,
um novo rosto, 
um novo corpo,
uma nova postura.

Talvez todas as respostas
já estejam gravadas na minha alma,
e ela só precise de espaço
e tranquilidade,
para emergir lá do fundo.



San, 13/04/2015