quarta-feira, 29 de abril de 2015

Suavidade


Me surpreende 
quanta suavidade
pode estar contida 
num único corpo,
numa única pessoa.

Um pequeno corpo
com uma imensa história
de dor, guerra, dizimação,
e renascimento.

De uma paz tão profunda
que sai pela respiração,
por todos gestos,
pelo simples olhar,
pelo silêncio.

Percebo claramente
que mil livros
não poderiam 
dar a instrução
que sua presença traz.



San, 29/04/2015

Conforto


São breves momentos
mas consigo me ver
límpida, organizada, 
equilibrada e em paz,
como sempre quis.

Logo sobrevém a cegueira
e volto ao turvo
dia a dia.

Procuro meus óculos 
que deixei pela casa,
procuro meu bom senso,
capacidade de ponderação,
observação, análise.

As vezes percebo que preciso
de um olhar amistoso,
um olhar que me traga de volta
ao meu ponto de conforto,
um olhar manso,
familiar, sem cobranças,
aquele de quem conhece o mundo
e sabe que tudo dará certo no final.



San, 29/04/2015

Nhac bom


Ás vezes preciso morder
com palavras.

Fico tão ultrajada
com alguma ideia estupida
apresentada de forma normal
desleixada, sem atenção,
que preciso dar uma mordida
em resposta.

Daquelas que saem rascantes,
apertando os miolos,
mostrando o dolo,
expondo o nervo
e apertando-o.

Não me sinto assim 
quando a intenção da conversa
é realmente chocar,
e a pessoa é assumidamente
uma crápula, boçal, venenosa.

Minha ira vem por aqueles
que se fazem de bem resolvidos,
estudados e bonzinhos
e de repente soltam 
aquelas pérolas negras
de gosma de preconceito,
desrespeito, desumanidade,
desatenção assassina.

Ai eu dou minha mordida,
expondo o osso,
como briga de cachorro louco,
babando de raiva incontida,
impregnada pela escuridão 
alheia e a minha.

Mordo e solto,
só quero ver a cara de surpresa
ou imagina-la se estou distante.

Depois esqueço a pessoa,
não é exatamente com ela o problema
é dar sangue para essas ideias piranhas,
é alimentar bandos de corvos
e cuidar de hienas.

Preciso cerrar meus dentes,
urgentemente,
aprender a conviver, 
de forma controlada,
com todas as burrices,
inclusive as minhas.



San, 29/04/2015

terça-feira, 28 de abril de 2015

Óbvio


Eles querem formalizar o informal
para organizar o caos
e finalmente ter nexo
seus acessos
de delírio.

E afirmam 
que todas crenças fazem mal
e que odeiam odiadores!!!

Um dia espero...
um dia quero...
um dia quem sabe....

Não precise explicar 
o óbvio
da contramão 
na evolução emocional.



San, 28/04/2015

Nos fundilhos


Sinceramente não vi as ovelhas.

Acho que agora devem estar ocupadas
com as coisas de ovelhas.

Possivelmente balindo por aí
em alguma igreja ou shopping.

Mas posso afirmar que passaram por aqui,
vejo pela cerca derrubada
e um monte de prospectos evangélicos
 espalhados.

Amanhã mesmo irei comprar 
um desses estilingues modernos,
abatedores ateus de ovelhas.



San, 28/04/2015

Que saco!


Preciso segurar o ego!

Não nego!

Um minuto de desatenção
e ele já toma os espaços,
muda a entonação da voz,
joga o corpo para a frente,
torna os olhos delirantes.

Preciso segurar o ego!

Que coisa!

Ríspida, direta, calculista,
detalhista, formal, temerosa,
de repente o bicho fofinho
vira um monstro sanguinário,
disposto a uma batalha
por praticamente nada.

Preciso segurar o ego!

Dá medo!

E depois a rebordosa,
aquela vergonha intensa
pelo vexame estúpido,
as atitudes examinadas,
a besteira consagrada.

Preciso segurar o ego!

Que saco!



San, 28/04/2015

Então vamos para a próxima revolta


Quem diz que o brasileiro
é um povo manso, bom, pacífico
não conhece nadica de história.

Foi em 1710
mais uma revolta,
essa por causa de sal,
não é salário não
é sal mesmo.

Monopólio da coroa portuguesa
que dava a poucos o direito de extração
e cobravam quanto queriam
além de estabelecer o tanto 
que podia ser comprado
pelo populaço.

Da fazenda Angola
negros, índios, capangas,
muito bem motivados
desceram a serra de Santos
"roubaram" o precioso produto.

Um roubo estranho é verdade
pois pagaram pelo que levaram
a parte justa disseram
para os donos e para a coroa.

Mesmo assim Bartolomeu
foi levado a ferros 
para ser julgado.

Morreu é claro!

Tudo pelo direito
de tornar nosso churrasquinho 
mais apreciado.



San, 28/04/2015

13 de setembro de 1660


Um dos primeiros movimentos
de insurreição nacional
foi da liberdade da cachaça.

Sim, isso mesmo,
o direito de ser um bebum
com a branquinha
legitimamente brasileira.

Briga feia, sangue, pedrada,
enforcamento,
cabeça decapitada
e pendurada
no pelourinho fluminense.

E isso é briga de pau d'água?

Mas valeu Sr. Jeronimo!

Hoje temos a irrestrita liberdade
de socar veneno local pelas goelas
até ficar inertes e contentes
pela coragem do povo
de antigamente.



San, 28/04/2015

Mastigada

Leia como quiser,
entenda como quiser,
sinta como quiser,
comente como quiser.



As palavras
também 
podem ser
mascaras.

E estamos
fugindo
do que?

Queremos
apenas
o que convém,
a coisa já mastigada
e digerida
por nossa cultura.


San, 28/04/2015

1440 minutos


Me sento

Me deito

Levanto

É assim que tem sido
a sucessão dos meus dias

Levanto

Me sento

Me deito

Parece tudo diferente
mas é tudo o mesmo

Me deito

Me sento

Levanto

Mais alguns minutos
caindo pelas frestas
do cotidiano
e alimentando
os corvos do tempo



San, 28/04/2015

Puro


Cansei de toda regra 
de pontuação
de toda regra
e aquele que defende
que é preciso ordem 
nesse caos que é a representação
escrita falada cuspida
da palavra
esquece que a bagunça
é o que esta no coração
que faz ou não
ser bem ou mau
entendido
e desgraçadamente
suprimido
a capacidade
de ir além do que esta ali
a sua frente

Todas as regras foram inventadas 
pelos seres humanos
a muito tempo
e constantemente
são reformadas
aprimoradas
as loucas e toscas
disposição 
da linguagem
por alguns que se acham
os donos de verdade
da nossa liberdade
de expressão

Mas é preciso usar da vírgula 
para conseguir pausar
e respirar nas frases
você me diz
mas se realmente precisa respirar
pare de fumar
eu lhe aviso

Enfim é assim
virgulas
ponto final
aspas
interrogação
dois pontos
travessão
estão atravessados
no meu caminho
me impedindo
de ir sozinho
até meu mundo puro
original



San 28 04 2015

Viagens


Todos as noites flutuo 
como nuvens soltas
desmanchando
levada pelo vento
para trás e para frente
sempre em nova posição
no mesmo lugar

É exasperante
e reconfortante
tudo ao mesmo tempo
as mesmas respostas
para novas perguntas

Algumas vezes 
a solidão é uma aliada perigosa
em outras uma amiga adorável
de qualquer maneira
estando ou não na melhor forma
sou lembrada constantemente
pela minha mente
que ainda não cheguei lá



San, 28/04/2015

Bola


Deitada espero quieta cansada 
sonolenta ainda acordada
enquanto ela se desenrola 
como uma bola de meia apertada
ponto a ponto 
esticando de dentro para fora 
se transformando.

É reconfortante observar 
aqueles que não tem pedaços pontiagudos
que podem ferir a si mesmo 
quando estão 
em grande liberdade de existir.

Quisera ser essa pessoa mais animal 
do que compostagem parental
explicitamente dentro de mim mesma 
lugar seguro 
que ainda não conheço agora.

Este é um derramar de ideias
antes que novamente
adormeça


San, 28/04/2015

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Outras energias


Me sento na cadeira da raiva 
por alguns minutos
mas dessa vez me pergunto: 
- Por que ela esta aqui?

Percebo que é apenas uma energia
como tantas que temos usado
no frigir dos milênios
para nos estabelecer 
e dominar o planeta.

Só que não conseguiremos
evoluir emocionalmente
se continuarmos usando a raiva
como a ferramenta principal.

Então eu a olho assim
como uma das tantas coisas 
que já senti, usei, participei
e a coloco novamente
na caixa de ferragens.

Não quero a energia da raiva
como um impulso 
para fazer o que é preciso,
para fazer o que é certo, 
para fazer o necessário.

Calmamente continuo respirando
e abraço outras forças 
que fluem através de mim,
outras energias que vem visitar
meu espaço interior.



San, 27/04/2015

domingo, 26 de abril de 2015

Inércia



Cansei de fazer planos!

Tenho uma caixa grande de papelão
no meu guarda-roupa
cheia de rascunhos de projetos,
todos fantásticos, inspiradores, 
criativos, transformadores,
extravagantes, intensos,
nenhum deles conseguiu
passar do meio dia da segunda feira.

Eu sou persistente em desistir,
abandonar bem antes 
que minha energia seja drenada
pelas agruras e dificuldades comuns
do dia a dia do mundo material.

De repente 
viro uma esquina do pensamento
e já quero outra coisa,
o importante de antes
se torna o banal e bobo do agora,
novos sonhos, novos planos,
mais pesquisa, mais rascunhos,
novas formas de ficar paralisada.

Nunca falhei em nada,
continuo um poço fundo
de possibilidades.



San, 26/04/2015

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Canção 5


O tempo canta toda noite
uma toada antiga,
que fala da dor
de ser esquecida.

Eu que escuto a tanto tempo
posso lhe afirmar
a força de transformação
que essa melodia traz.

Aprendi a voar
por novos mundos.

Aprendi a amar
sem retribuição.

Aprendi a perdoar
o que é feito sem pensar.

Aprendi a observar
nossa criação em conjunto.

Quando chega a noite
e sua estranha canção vem,
me enrodilho no meu espaço
de não ter ninguém.

E eu penso nas coisas boas
que eu já fiz,
mesmo que nenhuma delas
tenha me feito feliz.




San, 23/04/2015

Intenção


Da próxima vez que sair para passear
vou levar o meu amor.

Até agora minha vida 
tem sido caminhar 
acompanhada da prevenção, 
duvida, isolamento,
julgamento, confronto.

E o meu amor que é tão bonito,
suave, acolhedor, delicado, 
sempre fica guardado,
protegido, escondido.

Os olhos da incerteza me fazem ver
o inadequado, sujo, quebrado, 
abandonado, feio, incoerente.

Quero sentir o mundo 
com outras imagens.

Quero ver o mundo
com outros sentidos.

Da próxima vez que sair para passear
vou levar o meu amor.



San, 23/04/2015

A unica verdade


Comparado ao tempo que existe o universo
vivemos poucos segundos.

Para que sofrer por tão pouca bobagem?

Tenha dignidade! Tenha dignidade!

Não perca tempo com inveja, raiva, medo
ganância, preconceito, soberba e maldade.

A vida é só passagem.

Tenha dignidade! Tenha dignidade!

Somos apenas outra espécie
de milhares que existem no mundo.

Abandone seu delírio de grandeza.

O amor é a unica verdade.

Tenha dignidade! Tenha dignidade!



San, 23/04/2015

terça-feira, 21 de abril de 2015

Now



O ontem veio me visitar logo de manhã.

Desculpe! 
Mas hoje estou ocupada com o agora!
Tente em outro momento, 
talvez um encontro de família.

Mas como? 
Eu sempre lhe entreti.
Sem mim você ficaria 
sem fatos relevantes 
ou emocionantes
para contar garganta 
ou chorar por ai!

Sim, era o que sentia antes,
mas me ocupar somente de você
é como comer eternamente
o prato de ontem,
quero algo novo,
mesmo que não pareça 
tão emocionante.

Realmente não lhe entendo
tem me segurado aqui pertinho,
me chama a todo momento,
em qualquer lugar,
por qualquer motivo,
e agora vem dizendo que sou
sem gosto ou substância.

Então virei as costas,
não adiantava tentar explicar 
aquilo que surge 
não de uma longa análise,
mas do desejo da alma.

E calmamente 
peguei um copo de suco,
me joguei na cadeira, abri um livro,
e deixei a vida respirar
sem estar aprisionada pelas paredes
das experiências antigas.




San, 21/04/2015

domingo, 19 de abril de 2015

Nessuna risposta



Inútil querer saber 
o que será de mim
no fim.

Somos todos 
experiências,
produtos em teste.

A cada dia
um novo se cria
e outro se desfaz.

Ter função
ou direção
não é o principal.



San, 19/04/2015