Ás vezes preciso morder
com palavras.
Fico tão ultrajada
com alguma ideia estupida
apresentada de forma normal
desleixada, sem atenção,
que preciso dar uma mordida
em resposta.
Daquelas que saem rascantes,
apertando os miolos,
mostrando o dolo,
expondo o nervo
e apertando-o.
Não me sinto assim
quando a intenção da conversa
é realmente chocar,
e a pessoa é assumidamente
uma crápula, boçal, venenosa.
Minha ira vem por aqueles
que se fazem de bem resolvidos,
estudados e bonzinhos
e de repente soltam
aquelas pérolas negras
de gosma de preconceito,
desrespeito, desumanidade,
desatenção assassina.
Ai eu dou minha mordida,
expondo o osso,
como briga de cachorro louco,
babando de raiva incontida,
impregnada pela escuridão
alheia e a minha.
Mordo e solto,
só quero ver a cara de surpresa
ou imagina-la se estou distante.
Depois esqueço a pessoa,
não é exatamente com ela o problema
é dar sangue para essas ideias piranhas,
é alimentar bandos de corvos
e cuidar de hienas.
Preciso cerrar meus dentes,
urgentemente,
aprender a conviver,
de forma controlada,
com todas as burrices,
inclusive as minhas.
San, 29/04/2015