segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A TORRE




Não vou arrumar as camas,
os pratos hoje quebrarei,
as roupas permanecem
aonde estão,
e jogadas no chão
me perguntam
aonde pretendo chegar.

A nenhum lugar eu respondo,
pois não estou a chegar,
mas a sair,
sair do marasmo da perfeição criada,
tanta vida idealizada,
que percebi
é não vida,
é não eu,
não posso levar ao amanhã
o que nem ao menos hoje sou.

E assim a rua corre para mim,
pois hoje é o dia dos avessos,
eu sacudo o vento,
as arvores me balançam,
e descubro tanta coisa
que não sou.

Não se entristeça,
eu digo a aquela voz
que tenta cantar
uma canção com métrica,
já na pauta,
tão cordata.

Não se entristeça,
mesmo que seus conselhos
hoje sejam inócuos,
ainda assim é uma voz
com muita substância.

Me cante uma canção de ninar,
apenas,
e assim os caminhos
vão por mim desintegrando.

Nada mais se mexe nesse ser
que agora tem movimento,
estranho isso,
estar tão quieto
em meio a essa imensa sinfonia.



San, 05/07/05