Não pegue o fruto que esta verde,
deixe amadurecer na arvore,
que na arvore fica mais doce,
fica mais gostoso.
Ah! Minha avó!
Bondosa e sofrida pessoa,
ali cutucando meu entendimento.
Ah! Minha avó!
Mulher do mato,
mãos rachadas do trabalho pesado da enxada,
mãos inchadas de limpar o chão de casa alheia,
mãos queimadas pelos fornos quentes
e tanto tachos de doce para vender.
Mulher de rosto vincado,
de dura lida,
de muitas histórias,
de idas e vindas.
Ah! Minha avó!
Cantando hinos
para acalmar o coração aflito,
batendo roupa no tanque
para escoar a raiva de ser esquecida.
Então peguei o fruto verde
e me amargou a boca.
Para mim,
naquele época,
era ela a mulher invisível,
risível, sem glamour,
tão simples, tão comum, tão boba.
Desejos amarelos eu tinha,
tudo na hora,
tudo do meu jeito,
achava que sabia tudo,
que sabia demais,
que sabia de coisas
que ela não poderia.
Colhi os frutos verdes,
amores verdes,
caminho verde,
verdes atitudes,
sempre pegando no céu da boca,
amargando.
Ah! Minha avó!
Preciso agora do seu cheiro,
do barulho que fazia mancando ao caminhar,
preciso do som da sua voz,
dos seus resmungos.
Preciso das suas palavras!
Agora sei avó
da dimensão de todas elas,
e de como sou apenas um ponto,
uma formiguinha,
em meio a esse enorme carrossel
que chamam vida.
San, 16/09/09