Tantos verões já se passaram
como rios caudalosos
que desbarrancaram
as margens frágeis da minha vida,
vieram e se foram rugindo,
dobrando pedras e arrancando
largos tocos.
Mas todos se foram e assim eu fiquei
mastigando esse fruto de jatobá,
daqui para lá sem nunca acabar.
Acocorada num V de alta arvores,
protegida e sedenta,
o bom e o ruim lado a lado,
sem saber qual mais intenso.
Agora ainda não desço,
apenas pelo habito,
coisa forte que toma
todos lugares descampados do Eu.
Assim permaneço,
longe de tudo que possa fazer
o coração acelerar,
o sangue fugir, a mão gelar, a boca secar.
Numa paz que persevera
enquanto não vier alguém de machado.
Ainda nessa arvore, casa,
mãe, fuga, silêncio.
Tantos verões se passaram
e eu permaneço.
San, 29/10/08