segunda-feira, 14 de setembro de 2009

JATOBÁ


Tantos verões já se passaram
como rios caudalosos 
que desbarrancaram
as margens frágeis da minha vida,
vieram e se foram rugindo,
dobrando pedras e arrancando
largos tocos.

Mas todos se foram e assim eu fiquei
mastigando esse fruto de jatobá,
daqui para lá sem nunca acabar.

Acocorada num V de alta arvores,
protegida e sedenta,
o bom e o ruim lado a lado,
sem saber qual mais intenso.

Agora ainda não desço,
apenas pelo habito,
coisa forte que toma 
todos lugares descampados do Eu.

Assim permaneço,
longe de tudo que possa fazer
o coração acelerar,
o sangue fugir, a mão gelar, a boca secar.

Numa paz que persevera
enquanto não vier alguém de machado.

Ainda nessa arvore, casa,
mãe, fuga, silêncio.

Tantos verões se passaram
e eu permaneço.




San, 29/10/08