Sentada nessa calçada,
olhando meus próprios pés desajeitados,
me pergunto se algum dia vivi
movida por algo além da esperança.
Será que aproveitei a vida
ou ela se aproveitou de mim ?
E assim olhando a vida
absurdamente bela,
absurdamente breve,
eu vejo que todos os absurdos
fazem parte da condição de estar vivo
das formigas as montanhas.
Meus pés ainda dormentes
trazem Socrates
de algum lugar tão distante,
de coisas tão obscuras
que julgamos nunca possuir.
E assim vou olhando a rua
sem ve-la realmente,
olhando a vida
sem vive-la realmente.
Sera que aproveitei a vida
ou ela se aproveitou de mim?
Mas algo pula
de dentro do meu abdomen,
das mãos, pernas,
e me levanto
como um boneco de mola,
impulsionada talvez pela rotina,
ou vergonha,
ou pela exigência da solidão.
E vou indo,
onde realmente não sei
e até o final duvido que saberei.
No entanto estou a caminho,
sim percebo,
sou movida por algo
além da esperança.
San, 25/01/04