É preciso atravessar
o mar de carma
para chegar ao darma.
É o vento que espalha o fogo,
é o erro que ensina o jogo,
é a fome que torna
todas as coisas tão doces,
gostosas e especiais.
Caindo se firma a levantar,
quebrando se aprende a consertar,
exausto se para quieto
e finalmente observamos a vida.
Já fui cega, já ceguei,
já fui paralitica, já cortei pernas,
já queimei plantações e morri na miséria,
construí e destruí igrejas.
E em mim já foram tantos,
soldado, monge, prostituta, pintor,
cientista, escroque, curador,
bandoleiro, médico, andarilho,
arquiteto, dançarina, agricultor,
escritor, agiota, ferreiro, cantora,
coveiro, mendigo, professor.
Pesquei no Jordão,
no Aokigahara treinei kenjutsu,
meditei nos montes Tenasserim,
leprosa morei em cavernas
próximo a Samaria,
fui índia rezadeira
nas restingas de Bertioga,
cozinhei e limpei para Obás.
Vezes sem fim matei e me matei,
caminhei pelo mundo sem sossego
até terras estranhas
para descobrir outras sabedorias,
para me conhecer,
para ter paz.
É preciso se afogar
no mar do carma,
para desejar o darma.
San, 21/07/2015