Quando me ocupava dos outros
observava na maioria a crença
num interruptor mágico
que poderia ser encontrado e acessado
por alguém considerado especial,
um guru, sábio, santo, monge, mestre,
orientador, xamã, pastor, mentor,
e que permitiria um reboot
em todas as funções,
pensamentos, ações, crenças,
lembranças, emoções, sentimentos,
em tudo que fosse inadequado
naquela personalidade.
Tristemente acompanhava
o esvaziamento final
do próprio poder,
algo que começa na infância,
continua na aculturação de massa
na escola, entre amigos, ídolos,
livros, musicas, filmes, filosofia,
moda, religião, na propaganda,
nos sonhos plásticos
que nos são vendidos
como naturais e necessários.
Então segurava aquela taça vazia,
que tristemente ansiava aquele alguém
que iria verter nela o líquido da vida,
o fogo da vida, a pulsão da vida,
para finalmente ter propósito,
direção e capacidade
de gerir a si mesmo,
segurava carinhosamente
aquela preciosa taça vazia
que não sabia ainda como existir.
San, 31/12/2015