Nascida,
falta amor,
falta silêncio,
sobra cobrança
e descontentamento.
Escuto o tempo todo esse zunido,
lamento, xisto, apito, soluço,
misto das coisas assombrosas-delirantes
que os demais não se percebem.
Sou sensível ou confusa?
Omissa ou permissiva?
Patética ou oprimida?
E comprimida entre o certo-deles
e o meu-errado,
entre deuses vivos, mortos, superados,
entre os livros, o violino, as pinturas e os cães,
me armo.
Subo num diminuto espaço estabilizador,
seguro as correias dos sentidos inconscientes
e luto contra os pensamentos intrusos
e a horda de dementes
que se declaram
meus orientadores-amigos-amantes-pais-doutores
gurus-parentes-juízes-conselheiros-professores.
Luto e refuto
luto e refuto
luto, canso, esmigalho,
levanto, caio, levanto, caio
luto e me entristeço
e volto ao começo
dentro de um ventre pobre e podre,
novamente sem nome.
Ainda falta amor
mas sobra silêncio
sem cobranças
ou expectativas
vão-se dias e dias
de onipresente
descontentamento.
Nasço outro dia
se existir melodia,
volto como poesia
se encontrar espaço.
San, 19/02/2014