Quando abri mão da batalha
percebi que não era a honra
que me mantinha lutando
mas a raiva.
Uma força tão intensa
que não precisava pensar,
não precisava de apoio,
não precisava de direção,
não precisava de aprovação,
não precisava de mais nada,
a raiva tem a força
de um turbilhão de fogo
consumindo tudo pelo caminho.
Mas estava tão cansado
da dança da força bruta
que senti o desejo sincero da paz.
Era preciso abandonar a raiva,
mas sem ela me senti fraco,
atemorizado, cheio de dúvidas,
não sabia como agir,
me tornei apenas humano.
A paz não vem pelo confronto,
não vem pela imposição,
não vem pelo controle,
é preciso o esvaziamento,
de toda sujeira acumulada.
Então subi a montanha descalço,
apenas com um reles manto,
pisando na neve do amanhecer
esfriando meu coração queimado.
Me desfiz de tudo aquilo
que já sabia ser mentira,
o poder, a acumulação, o nome,
carreguei tudo aquilo
que esperava ser verdade,
o juzu, a tigela, o bastão.
Assim tenho caminhado
por muitas águas.
San, 27/08/2015