segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Decadentes


A net é prenha de mensagens
doces, rasteiras e superficiais.

Não desista nunca! É uma delas.
Não desista dos seus sonhos!
Não desista da vida!
Não desista de tentar!
Não desista de deus!

Talvez essa fixação seja 
porque o homem é basicamente
um desistente nato,
um fazedor de corpo mole,
optante antigo da via mais fácil,
mestre do "deixe para depois".

Admiramos os fazedores,
enquanto ficamos ali jogados no sofá 
ou a noite inteira no computador,
na modorra emocional.

Apesar de louvar a persistência
desistimos facilmente
da paciência, respeito e ética
quando a situação negativa
pende para nosso lado.

É magico ler essas mensagens,
nos dá uma sensação de conforto
sem o confronto,
cutuca nosso ponto de força
que dormita na inexperiência.



San, 31/08/2015

domingo, 30 de agosto de 2015

Bom dia, me faça um café por favor!



Se a gentileza determina o preço do café,
tornando-o mais acessível,
o que fará então com toda nossa vida,
em todos lugares, em todas situações?

Já imaginou isso?

Naquele momento passado,
em que você quebrou o pau,
gritou, xingou, humilhou, bateu,
mesmo que diga que foi merecido.

Como seria com gentileza?

Talvez não conseguisse nada.

Mas você REALMENTE consegue algo com briga,
algo além do seu ego ter se projetado
e você se sentir o melhor, o fodão?

 Vai dizer que humilhar outro lhe dá vantagem,
num mundo onde você não deseja isso para você?

Vai dizer que gritar com alguém lhe faz ser entendido,
quando no meio da algazarra você se sente tonto?

Vai me afirmar que é preciso guerra
para conseguir paz?

Como seria a vida com gentileza
ao invés da pobreza de sentidos
que é o descaso e a violência?

Tente essa via,
construa outra vida.



San, 30/08/2015

Breve sopro


O amor romântico é muito prazeroso, 
mas assim como os bonecos de neve
quando chega o calor das encrencas do dia a dia
ele começa a se desintegrar.

E pronto, perde a forma da ternura,
desaparece a paciência,
começa a intransigência,
a cobrança, o bate boca,
a acusação, o choro, o encosto,
se vai pelos ares o respeito,
vaporiza aquela parceria,
morre a alma gêmea,
fica só o mau gênio,
a sensação do engano.

Porque tiramos os óculos coloridos,
aquele que colocamos para ver nosso cenário de sonhos,
o mundo perfeito que na mente construímos,
mas realmente não existe.

Um dia acabamos enxergando o outro,
como é, como quer ser, como sempre foi,
que choque tem a criatura 
ao ver que não é também o criador,
não pode moldar do barro ou da neve
o ser perfeito que idealiza.

O amor romântico é lindo
desde de que se respeite o calendário,
e não se peça mais do que pode
existir de um breve sopro.



San, 30/08/2015

Totalidade


Aconchego é algo tão precioso,
ao mesmo tempo tão mal entendido,
super ou sub estimado,
irreconhecível na sua forma pura.

Um abraço silencioso no momento mais assustador,
um telefonema no final semana para escutar o outro,
uma carta singela com um cartão de melhoras,
ouvir atentamente sem aparte ou julgamento,
repartir metade do pão de queijo e um gole da tubaína,
atravessar a rua junto com alguém que tem os passos lentos,
parar realmente atento para dar uma informação,
comer a comida preparada pela mãe/avó com carinho e alegria,
tomar o serviço de casa para si quando o outro está exausto,
contar uma estorinha sem pressa ao pé da cama do pequeno,
antes de expor um problema no relacionamento 
buscar em si a solução,
não gritar, não brigar, não agredir quando o outro está frágil,
respeitar as ideias alheias mesmo que nos pareçam bobas,
sentar para ver um por de sol ou a lua juntos,
balançar a rede ou o carrinho ou o balanço sem pressa,
responder as perguntas mais triviais como se fossem de ouro,
realmente estar presente, se permitindo estar ali.

Aconchego é a arte de existir em totalidade,
da forma mais humana e bondosa possível.



San, 30/08/2015

Fonema


Por que precisamos estabelecer essa diferença?

Para entender, oras, para saber do que se fala...
canto, manto, tanto, santo...

Há tá....o santo estava cantando tanto
que nem viu seu manto
pegar fogo na vela derrubada...

O que? Já esta fazendo delírio com as palavras?

Ai ai ai 
preste atenção
porque é uma coisa pequena
é a menor do sistema fonológico,
se não prestar atenção 
vai perde-la por ai.

Tem pessoas fonemas?

Como assim "pessoas fonemas"? 

Tem pessoas tão pequenas
que são perdidas por ai,
igual o Juca Miranda
que foi perdido na rodoviária.

Ai é outra coisa...ou sei lá...a mesma
talvez a mãe desnaturada não soubesse
diferenciar mesmo uma coisa da outra
e não conseguisse ver a diferença que faria
aquela pequena alma....

Pronto, já estou eu a delirar com você!

Voltemos a aula.

Então fonema,
pata, lata, gata, mata, cata, data...
só mudou uma letra,
mas já fez muita diferença.

Entendi.

A experiência é o fonema,
a vida é a frase
sou eu que a monto.



San, 30/08/2015

Da preciosidade do mundo


Poucas pessoas sabem identificar
um diamante bruto.

E somente um velho lapidário
consegue trazer a tona seu brilho
perfeição e valor.

Como então confiar
nas pessoas mundanas
desconectadas, descontroladas,
sem qualquer cultura, nexo, interesse
para dar um significado para sua vida?

Você certamente esta procurando
no lugar errado, no momento errado,
na pessoa errada.

Escutou muito conselho absurdo?

Porque é muito comum aconselhar
como se compra banana,
sem olhar, é tudo igual, as pencas,
deixando até o moço da feira escolher.

Eles não veem,
eles não sabem,
eles não entendem,
eles nem ao menos escutam.

Como podem saber
da preciosidade
do mundo?




San, 30/08/2015

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Happiness


Boa noite!

Boa!

E de novo o que tem?

De novo tem a felicidade.

Ela? A mesma? A procurada?

Sim, essa, tal e qual.

Mas como? Onde estava?

De onde surgiu não sei,
só colhi a pouquinho.

Ela passava assim? 
Voando como passarinho?

Se voava não sei,
estava na cadeira
e eu peguei.

Prendeu? Esta amarrada com fita?
Precisa ter cuidado, é tão raro essa visita!

Não gosto de nada atado,
perde a espontaneidade,
o brilho, a leveza, 
fica murcho, pesado.

Mas e se fugir? Onde caçaremos?

Segundo dizem
não tem lugar
onde ela não viva,
porém não esta
em todos lugares.

Coisa estranha! Bem enigmática!

Pois é, é assim mesmo,
é simples e complicado,
é pouco e é muito,
está longe e bem pertinho.

Mas me deixe ver
essa tão famosa figura.

E dali de um cantinho
a felicidade surgiu
assoviando baixinho
e logo escapuliu.



San, 27/08/2015

Cataplasma


Sua palavra é areada,
fluí com meu pensar
leva mais longe, 
torna mais claro,
tão luminoso
e raro.

Juntando tudo
com minhas lágrimas
faço um cataplasma
que me sossega
o coração 
ferido.

Tem sentido,
tem sentido,
finalmente
tem sentido.



San, 27/08/2015

Vira mês


De noite na cama
eu fico pensando:
Se o mundo explode
por que estou
me preocupando?

E de manhã cedo
levanto para a rotina,
as coisas que não gosto
mas algo me ensina.

Cada dia par
cada dia impar
vou levando
esse corpo, 
esse estigma.

Vira o mês,
vira o catavento,
vira o cartão do tormento,
começa outra conquista.



San, 27/08/2015

Polissemia


Esse tal subentendido,
que esta sempre criando das suas
oculto nas brumas da ignorância,
que é dito indeterminado,
para mim é o simples
quando se acha composto,
ele perde sua compostura
e mergulha no caos.

Não adianta clamar
que é ação sem sujeito,
barco solto sozinho na correnteza,
ação indefinida da natureza,
para tudo tem seu tolo,
para todos tem seu preço,
tem sempre um sujeito
e seus predicados
basta observar a substancia
da oração subordinada.

Mas a confusão 
é do homem que ela vem
que inventa cada hora
um novo sentido
e milhares de sentir
com suas loucas
 interpretações.




San, 27/08/2015

Pernacchia


Vamos parar de definir,
de transferir, de exigir,
de colar etiquetas,
de arredondar as beiradas.

A intransigência
é o fermento do pão asno.

Ninguém lhe pede para tolerar
aquilo que nem é da sua conta.

Cuide da sua vida!

Menos aparte
e mais arte!

É muita reverberação
para tão comum
situação.

Vamos parar de encrencar,
de requentar, de esmerilhar,
de fazer trem fantasma,
de criar mais mau carma.

Cuide da sua vida!



San, 27/08/2015

Por muitas águas


Quando abri mão da batalha
percebi que não era a honra
que me mantinha lutando
mas a raiva.

Uma força tão intensa
que não precisava pensar,
não precisava de apoio,
não precisava de direção,
não precisava de aprovação,
não precisava de mais nada,
a raiva tem a força 
de um turbilhão de fogo
consumindo tudo pelo caminho.

Mas estava tão cansado 
da dança da força bruta
que senti o desejo sincero da paz.

Era preciso abandonar a raiva,
mas sem ela me senti fraco,
atemorizado, cheio de dúvidas,
não sabia como agir,
me tornei apenas humano.

A paz não vem pelo confronto,
não vem pela imposição,
não vem pelo controle,
é preciso o esvaziamento,
de toda sujeira acumulada.

Então subi a montanha descalço,
apenas com um reles manto,
pisando na neve do amanhecer
esfriando meu coração queimado.

Me desfiz de tudo aquilo
que já sabia ser mentira,
o poder, a acumulação, o nome,
carreguei tudo aquilo
que esperava ser verdade,
o juzu, a tigela, o bastão.

Assim tenho caminhado
por muitas águas.



San, 27/08/2015

Trepidação


Eu a sinta chegando por dentro,
os homens a chamam ansiedade
eu a denomino tempestade.

Vai levantando o tapete de folhas-lembranças
esvoaçando e misturando tudo,
medo, irritação, falta de ar, duvidas,
aquele terror inconsciente.

De repente me vejo refém da força da sensação
como um paquiderme sentado sobre meu peito,
não consigo interromper, não consigo falar,
preciso fugir para algum lugar.

Então eu corro para as luzes artificiais
dos shoppings, para uma livraria, para o cinema,
para algum lugar bonito e cheiroso
onde acreditamos que a vida é assim tão bela.

Ouço ao longe o rugido do vento, 
os trovões, a coisa intensa que acontece
dentro da caixa que eu fechei em outra caixa,
fecho os olhos e suspiro:
- Escapei dessa vez! 

Volto para casa cabisbaixa, sem energia,
não é do meu feitio fugir de uma batalha,
não é do meu caráter fingir por tanto tempo,
assumo a incapacidade de ser capaz,
fico triste, vazia, envergonhada.

Sento, respiro, medito,
tento olhar pelos olhos de tantos outros,
que perderam, caíram, se machucaram,
mas em algum momento superaram,
temerosa invoco a clareza.

Abro a caixa, 
está vazia,
a tempestade agora 
é brisa suave,
ouço a cantiga
de todos eus
sobreviventes.



San, 27/08/2015

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Allan Sieber e a delusão


Tem horas em que eu sou a justiceira,
saindo pelo mundo consertando as situações
e fazendo os "malvados" e "abusados" pagar o pato.

A mente fica naquela rodinha louca de julgar tudo,
dar palpite, lavrar a sentença, mandar executar,
babando de prazer nas horas perdidas de delírio.

Em outras sou a injustiçada, coitadinha, maltratada,
que toma as pedradas da gente má e ignorante,
sofre o abuso de desconhecidos e conhecidos
mas se mantém reta, no bom caminho, quase uma santa.

Lá vai a mente, novamente, na invencionice tecnicolor
hora cai, se arrasta, levanta, toca o céu, cai de novo,
morre e finalmente é reconhecida
com choros e ranger de dentes.

O chá ferve até quase secar,
o tanque enche e vaza pelas bordas,
o macarrão espera até outro dia 
o fogo ser finalmente aceso para cozinhar,
as coisas ficam onde estão
enquanto eu estou em nenhum lugar ,
sonhando, sonhando, sonhando
nesse vicio da delusão.



San, 26/08/2015

Agosto a gosto



Para os peixinhos pequenos
não foi tão bom esse mês de Agosto,
foi preciso uma perícia imensa
para fugir das garras dos monstros,
se safar das correntezas frias,
encontrar bom alimento
e um lugar tranquilo
para suas crias.

Esse agosto que complica!

Já para os grandes polvos,
baleias jubartes, tubarões,
e navios de cruzeiro da Royal Caribbean
tudo foi dentro do normal, agradável, 
até fenomenal.

Esse agosto que agrada!

O que posso dizer então de mim?

Agosto foi uma pedrada na cabeça,
cai de cara na terra, na bosta, 
perdi a razão, a palavra,
comi minhoca.

Doeu? Dói!

O interessante que percebi
que passava muito tempo 
olhando para cima, para os lados,
para o passado ou o futuro,
nem sabia que estava a tempos a marcha
num caminho qualquer.

Agosto foi o mês do bingo,
me acertaram no caminho,
e ganhei o grande prêmio pomposo,
aquele bem misterioso
que ainda esta meio escondido,
me resta desembrulha-lo,
e por bem observa-lo
para saber 
do meu destino.



San, 26/08/2015

Para ninguém se entender


Tentar falar somente a verdade
é como resolver uma equação matemática de 100º grau,
rever paciência, perseverança, jogo de cintura,
muita atenção, sensibilidade, treinamento duro,
uma tremenda capacidade de moldar a letra
a forma de entendimento do iletrado.

Estranho incomodar tanto quem escuta,
mesmo quando dito da forma mais branda
com toda a gentileza e respeito possível,
mesmo que aquilo não lhe diga respeito,
é impressionante como a verdade pica, 
coça, cutuca, inflama, raspa, gela,
qualquer um, em qualquer nível, 
sobre qualquer assunto,

Dizem os sábios que verdade absoluta não existe,
existe a sua verdade, a minha verdade, a verdade do fulano,
aquela que elegemos como a verdade do momento,
do seu tempo, daquela cultura, sociedade, movimento.

Mas existe a verdade sentida ou pressentida
aquela que sabemos que para todos existe,
amor, ódio, bondade, maldade, ressentimento,
ganância, inveja, doçura, ciúmes, justiça,
nascer, crescer, adoecer, morrer,
ela esta um pouco aqui e um pouco acolá,
a escondemos entre nossas invenções,
dramas e perversões sociais,
mas um tiquinho sempre aparece.

Pois então essa verdade,
essa verdade nua e bruta,
de que não somos nada mais
do que apenas um dos animais deste planeta,
que faz e precisa das mesmas coisas
que todos os outros seres,
e assim que nasce
esta fadado as mesmas tramas
e problemas dos demais
para depois morrer
qualquer hora,
qualquer dia
e ser um nada no final,
essa verdade desconhecemos,
preferimos a mentira mais gloriosa
para ninguém se entender.



San, 26/08/2015

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Clareza


Eu não quero que me dê a mão,
quero que se segure bem firme 
na sua fresta de pedra,
quero que seja um a menos
a rolar por essas ribanceiras
levando desconhecidos, amigos, a família inteira,
no seu desassossego.

Eu não quero que me jogue uma corda,
um pino, uma picareta, uma lanceta,
quero que veja com atenção 
de onde esta me vendo,
que veja a vista,
não aquilo que julga 
que eu preciso.

Pois o que eu preciso 
meu coração só confia a mim contar
e mesmo assim só 
quando estiver fincada em meu lugar,
que não será seguro
pois o mundo não o é,
que não será definitivo
será do momento por um momento.

Aqui tento semear tranquilidade
em meio a precariedade,
o vento contrário da opinião alheia,
as vezes uma chuva de lamentos
duvidas, estranhamento, agonia,
que cedem ao sol da tarde
para que eu possa continuar
minha subida ou descida
essa duvida mais me intriga.

Não preciso do seu prognóstico lamuriento,
do desespero de quem se sente descoberto,
esquecido, afrontado, partido, desapoderado,
não preciso do seu braço forte
para me salvar daquilo que criamos,
preciso apenas ficar mais tempo nessa luminosidade
até que meus ossos se solidifiquem,
até que meu olho se desembace,
até que seque minhas asas.




San, 25/08/2015