segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Inteira


Se me permite um aparte
não queria mais fazer parte
do destrinchamento e canibalização
dos diversos membros mais pobres
da população.

Então matei meu monstro voraz
selando sua bocarra rota,
e ele teve que sobreviver
apenas do prana do respirar,
e foi definhando, esmorecendo,
desarticulando,
enobrecendo.

Até que num dado momento
nada mais conseguia fazer de besteira
e foi viver silencioso no mato,
plantando tomate e couve,
colhendo açaí e banana,
dormindo em rede,
remando barco rio acima,
rio abaixo,
tomando chuva sem capa,
tomando sol sem chapéu,
modelando tijolo,
quebrando taquara.

Sem luz, sem água encanada,
sem privada, sem computador,
sem livros, sem celular,
sem comida congelada,
sem 1.500 amigos,
apenas a vida de gente tosca,
apenas essa vida 
de gente inteira.




San, 22/11/2014