domingo, 14 de abril de 2013

Perdão


Quando cheguei a praça
meu coração veio pesado
carregado de ressentimento.

- Por que você não me amou?

Mas ao lhe ver ainda de longe,
cabeça sustentada pela mão,
corpo cansado fustigado pelos anos,
você me pareceu tão pequeno,
tão perdido, tão fragil.

Meu coração foi se esvaziando
como um ralo que de repente é limpo,
a magoa foi saindo de mim
as lembranças doloridas
dos tempos de grandes cobranças
e poucos abraços.

Quando cheguei perto apenas lhe disse :

- Pai, trouxe seu biscoito de vento, aquele que você gosta!

Você nada me respondeu,
me olhou duas ou tres vezes,
e depois levou seu olhar para longe,
talvez para aquele lugar
onde coisas maravilhosas acontecem,
e ninguem comete erros
ou sofre sem motivos.

- Pai, sou eu, sua filha!

Mas de repente percebi,
você não estava mais ali,
não estava no banco,
não estava na praça,
não estava comigo,
ali sentado estava apenas um corpo,
um corpo que já tinha feito muitas coisas
boas e ruins,
mas que agora não tinha mais nome,
passado, desejo, lembranças,
alegrias, dores, filhos, netos,
aniversarios, natais, dias dos pais.

Como uma imensa borracha branca
a doença apagou tudo em você,
tudo também de nós dois,
toda nossa dificil convivência.

Então eu sentei,
lhe abracei,
coração leve,
começando de novo
a lhe amar.


San, 15/04/13