quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Porque eu não durmo


A noite é harmonia oculta,
o silencio profundo delicioso, 
sem a dodecafonia das manhãs,
xistos, ruídos, apelos comerciais,
latidos, cobranças, enfrentamentos.

A noite,  

alma de poeta,
abre sua ampla gaveta mágica
e tudo se esvai para o lago esquecimento,
aquilo que não somos e queremos,
aquilo que somos e não sabemos,
turbilhão escuro sugando a ansiedade da manhã,
os portos de chegada dos barcos naufragados.

Eu sei que para alguns a noite é mão pesada,
e como boca desdentada dá seu tapa de tristeza,
vicio, abandono, agressão matança,
mas não para mim,
ela se enrodilha em meus tornozelos
como um velho cão protetor.
suave e aconchegante.

As manhãs são emaranhados de tanta gente,
fiapos entrelaçados de tantas coisas que detesto, 
respirando o mesmo ar,
enchendo minha vida de ais carbônicos,
sufocando minha criatividade,
saturando meu espaço intimo com a casualidade,
banalidade, mediocridade.



A noite calados em suas camas,
tão profundamente quietos,
não são mais absurdos absolutos,
não são mais carrascos abusivos,
vitimas manipuladoras.
apenas respirações fundas pausadas,
pernas que dançam aqui e ali,
corpos que se mexem com a maré
das ondas imagens sem sentido.

Pois vem a noite e sopra para o outro lado
a força bestial da humanidade,
e no meu éden de milhões de estrelas
posso até ouvir com clareza
a musica primeva da sistole e diástole, 
sem subjugo, nomes, idade,
sem roteiros, classes, grupos,
apenas o silêncio terno,
apenas o silencioso mundo.


San, 11/10/2013