quarta-feira, 15 de julho de 2020

Só uma caneca



Estava a levar pesados fardos
que me foram impostos ou cobrados
sem perceber que nenhum poderia
me trazer real alegria

Abrir as mãos parece fácil
mas por tanto tempo segurei
que os dedos tal qual garras
se mostravam congelados

Enfim por tanto feito nesse esforço
num suspiro longo soltei os pesos
quase me quedando junto a eles
da vertigem da liberação

Olhei o que me sobrou
me felicitando com o tanto que me cabia
tão pouco tão fácil tão sem surpresa
essencial e seguro de levar

Agora sinto enfim que comecei a vida
a vida própria nunca antes vivida
presa que estava nos encargos 
de ser agradável a tantos outros

E com meus dedos totalmente soltos
fui lavar alegre minha pouca louça
apenas uma xícara
um pratinho

Sem precisar me antecipar
a tantos problemas e causos
das necessidades inexistentes
apenas comigo tão contente





San, 15/07/2020