Hoje é um dia de arrastar o pé
a perna pesada e o braço bobo
dói, pinica, treme, incha, repuxa
fico tropeçando por qualquer motivo
até em quinas inexistentes
Antes eu xingava
gritava um bom palavrão
daqueles cabeludos
agora solto apenas um "ai"
desses pequenos
ou respiro fundo
Já tive meu tempo de mágoa
perguntas insistentes e raivosas
jogar as coisas no chão
ou mesmo bater a cabeça na parede
mas isso passou
Agora consigo me trazer de volta
devagar e com consistência
seja do mundo da impaciência
da tristeza ou sofrimento
e ai posso me contentar
com alguns suspiros
Ainda penso muito em inimigos
ocultos, inesperados ou antigos
mas afirmo que esse hábito-vicio
não me ajuda, não me prepara,
não me fortalece ou apoia
e vou para outro local mental
É um trabalho diário
um trabalho de formiguinha
persistente, atento, envolvida
e sem expectativas imediatas
mas eu faço
Eu mudo porque preciso
cansei de estar sempre a beira do abismo
me refaço para conseguir viver
em igualdade
comigo mesma
San, 03/09/2017