quarta-feira, 5 de março de 2014
Poesia livre
A poesia é o rasgo no cotidiano
um vergão no conceito,
uma abertura no tempo,
por onde milhares de coisas
aparentemente sem nexo
escorregam,
são trituradas pela força do sentir,
e ai são ser sorvidas,
e cuspidas em diminutas letras
se moldando em absurdo,
lirismo,
transgressão,
beleza,
possessão.
- Eu não sou livre!
Me disse a criança
enquanto agachada e absorta
remexia o lixo das emoções do mundo.
- Eu não sou livre!
Reafirmou a criança
ao encontrar um giz de cera
quebrado e sujo.
- Eu não sou livre!
Meu coração sussurrava baixinho
enquanto a ouvia.
E pegando entre seus pequenos dedos
seu giz de cera velho e disfuncional
puxou as folhas soltas vazias
que eu trazia em minhas mãos.
Desenhou um pássaro, um gato, uma árvore grande,
uma casa, um sol nascendo, uma flor, uma nuvem redonda,
uma menina sorrindo e pulando corda.
E já satisfeita saiu correndo sem propriamente uma direção.
Então fui dando nomes e sentido para as coisas
para o pássaro, gato, árvore grande,
casa, sol nascendo, flor, nuvem redonda,
para a menina sorrindo e pulando corda,
a menina lendo sentada na mureta,
a menina caminhando na praia e recitando bobagens,
a menina sentada diante de um computador,
a menina criando poesias livres.
San, 01/03/2014