segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Calabouço

Eu me espanto
com que a mão esquerda
silenciosamente cria
enquanto a direita
prepara um sanduiche.

De repente algo surgiu ali,
vindo de não sei onde,
e uma coisa que parece ter valor,
critério, profundidade,
algo que posso amar.

Naturalmente não posso reconhecer como meu.

Sempre fui uma menina obediente,
aceitei a raiva oferecida como parte de mim mesma,
absorvi e gravei as lições de intolerancia,
melancolia, medo, insegurança.

Me espanta ver algo surgir
vinda além do desequilibrio da minha familia,
do desespero da minha mãe,
do vazio do meu pai.

Eu me espanto que a mão esquerda
seja de alguém que esteve em minha infância
mas não continua nela,
seja de alguém que vem de toda uma grande
linhagem de dor,
mas que criou seu próprio espaço,
presença e consciência.

Então escondo suas rimas,
pautas, sugestões, desenhos,
os guardo entre paginas de velhos livros,
como amostragem de mim mesma,
para ser encontrado pelo meu futuro.

San, 30/11/2012