Por algum tempo eu achei
que toda imensa dor
que havia dentro de mim
poderia sair fisicamente,
mecanicamente,
então eu escrevia
em meu corpo.
Palavras
que não conseguia dizer,
não conseguia digerir,
palavras que não queria ouvir,
não queria entender,
palavras feias
e grudentas
que pulavam no ar
e puxavam meu cabelo.
Antes que elas
fossem sugadas
pelo meu espirito
eu as agarrava
e as escrevia em meu corpo.
Por alguns minutos
tudo era silencio,
enquanto o sangue escorria,
tudo era silêncio,
tão calmo,
tão puro,
sem nada
que pudesse me ferir.
Mas nas suas marcas
as palavras
continuavam vivas,
como uma tatuagem,
continuavam a contar
de forma sorrateira
toda a história da dor,
toda a história da culpa,
tanta história de abandono.
San, 25/12/2012