Não sentir você
me faz ser um pouco mais excluida,mas melhor ser apartada do comum
do que negar meu mundo interior,
então me mantenho firme
na minha própria ignorância.
E falo da minha ignorância
como algo que se baseia
em todas e tantas coisas
que existem
e eu ainda não sei,
coisas que serão pesquisadas,
analisadas, experimentadas,
coisas para os próximos 100 anos.
Ainda ignoro muitas coisas,
muitas coisas maravilhosas,
quase inacreditáveis,
surpreendentes,
ou mesmo coisas simples
mas poderosas
e intensas.
Houve uma época
em que fingia saber tudo,
era uma forma de não ser achatada
pela grande pressão atmosférica
da vida adulta.
Então percebi
que não é ruim não saber,
não é destrutivo ou pecaminoso,
feio é negar que não tem nada além
do que já sabemos,
negar milhares de outras
realidades.
Mas também é feio
fingir que ainda se acredita em coisas
que não existem mais,
nunca existiram
ou tiveram sua data de validade mental
expirada,
fingir fé por algo
que já morreu a muito tempo,
adorar um idolo
que nem sabemos mais
o que significa.
Não consigo mais
amar a imagem do panfleto,
as palavras desconexas
dos livros de ficção
da antiguidade,
não me contento
com a promessa apenas,
não me sustento
apenas de energia.
Um dia minha ciência
foi a religião,
agora minha religião
é a ciência,
amanhã não sei
o que será,
talvez pique esconde,
amarelinha,
talvez uma poesia
de Florbela Espanca,
quem sabe um x-burguer duplo
do Burguer King.
Quero a vida não condicionada,
a vida que viaja
por todas as idéias
e palavras,
a vida que existe
além da minha ignorância.
San, 07/01/2013