sábado, 26 de janeiro de 2013

D E S F R U T E


Seja desavergonhado,
desfrute!

Ria, enfrente, dance,
tome emprestado,
lamba os dedos,
corra na chuva,
gargalhe alto,
desfrute.

Amanhã é um embuste,
o ontem não enche o prato,
use o que tem agora,
se é pouco seja um goumert,
olhe, cheire, toque,
prove pedaço a pedaço.
se é muito faça presente,
divida com os passantes,
enfie nas caixas de correio.

Quem aprecia vive melhor,
quem aceita se mantem inteiro,
a vida não manda conselho,
desfrute.

San, 26/01/13


Eu não estou falando de amor !!!


Já no primeiro dia 
você mentiu para mim,
uma mentira simples,
perceptivel,
mas eu fingi não notar
então fomos para o segundo dia.

No segundo dia 
foram diversas mentiras,
algumas estranhas,
outras apenas sem sentido,
mas eu fingi que estava enebriada,
então fomos para o terceiro dia.

No terceiro dia suas mentiras
já eram de um especialista,
mentiras que só ocorrem
depois de 3 a 4 meses 
de relacionamento,
mas eu fingi que não me importava,
então fomos para o quarto dia.

No quarto, quinto e sexto dia
suas mentiras se tornaram contundentes,
maldosas, corrosivas, magoadas,
mentiras acusatórias,
mentiras ditas para me causar dor,
e eu fui me encolhendo,
me escondendo,
me apertando no mínimo 
que me cabia.

No sétimo dia você descansou
e eu aproveitei para pegar minha mala
e fugir do paraiso.


San, 26/01/13

Meu jeito péssimo de amar


Eu queria tanto ser uma pessoa
generosa e paciente,
de palavras moderadas,
doces, angelicais,
direcionadas, congruentes,
plenas, reconfortantes
carinhosas.

É dificil lhe explicar,
é tão dificil!

Existe sim amor aqui e muito.
E igualmente existe muito também
de dor, desconfiança, vazio, medo,
insegurança, rejeição, sujeição.

Doses cavalares de tudo que é ruim,
e não as consigo separar de mim,
estão entranhadas numa trama
que se for desfeita
desmancha tudo,
até meu fragil eu.

É dificil lhe explicar,
é tão dificil!

Eu não quero lhe trazer dor,
nada nela me da prazer,
me envergonha sentir que lhe magoou,
espezinho, banalizo, sacrifico,
e choro pelas tormentas que lhe causo,
mas não consigo evitar
de ser essa pessoa 
em eterna tempestade.

É dificil lhe explicar,
é tão dificil!

Eu queria ser alguém
que temos prazer em convidar
para um churrasco com os amigos,
para o aniversário do sobrinho,
assistir uma maratona de filmes antigos,
comer um despretensioso churros,
até mesmo conhecer a ex namorada
aquela que ainda você mantem como amiga.

Eu queria ser alguém
por quem colocamos a mão no fogo
sem se queimar,
que não precisamos justificar
os atos, as palavras, a emoção,
que entendemos
sem precisar de muita conversa,
mas eu não consigo.

É dificil lhe explicar,
é tão dificil!


San, 21/01/13

BIRD


Enquanto eu saltava,
semi-livre,
semi-aprisionada,
meus olhos não estavam
no aqui e agora,
bela casa, pequena natureza,
proteção, comida farta.

Você estava comigo,
mas eu não estava com você.

Não por julga-la perigosa,
estranha, desumana -
palavra essa bem equivocada,
pois o que não é humano
não é necessáriamente mal,
sem valor, sem função.

Dentro de mim
sempre persistiu
aquilo para o qual nasci,
estando ou não
na situação.

Viver na imensidão,
voar em bandos,
sentir o nascer do por do sol
de lugares diferentes,
trabalhar pelo próprio sustento,
lutar por ele em diversos momento.

Colher a vida da própria vida
e não de uma caixa de supermercado
ou lojas que pretensamente
tem tudo que os mais
"diversos" especimes
de "animais" precisam.

Outra palavra
que me estranha,
animais somos todos nós
e não somente aqueles
com configurações fisicas
e geneticas diferentes.

Na dança dos cromossomos
somente vocês humanos,
tiveram o direito
de ser algo mais?

Você me comprou,
tratou, amou,
mas eu nunca realmente
estive com você.

Não compreendo
a necessidade humana
de ter a vida para a vida ter,
eu sempre tive tudo em mim,
nunca me afastei
da minha própria natureza,
apenas sou.

Não se sinta triste,
acuada pela lembrança,
o acaso me levou
até o começo real
da minha estrada,
era esse o lugar
da minha existência.


San, 23/01/2013
Dedicado a Marta


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Poesia da menina fazendo suco


Se eu fosse flor de maracuja
teria muitos namorados,
poucas são tão mais vistosas,
perfumadas
e surpreendentes.

Se eu fosse flor de maracuja
nenhuma situação me afetaria,
e qualquer coisa bastaria me recolher
intimamente,
maracuja cura a si mesmo,
seria bem calminha.

Se eu fosse flor de maracuja
teria muito menos medo,
cada petala que caisse
uma coisa melhor
estaria sendo preparada,
perder não seria dano.

Não importaria
onde estivesse brotando,
num grande quintal
ou na pequena rachadura
de um muro velho,
com minha grevilhas
iria subindo,
ultrapassando tudo,
ganhando mundo.

E não teria medo
das coisas fedorentas,
meio brutais
e estranhas do mundo,
como maracuja
saberia o valor
as Mamangabas.

San, 07/01/2012


Ignoro Ignata Amara

 
Não sentir você
me faz ser um pouco mais excluida,
mas melhor ser apartada do comum
do que negar meu mundo interior,
então me mantenho firme
na minha própria ignorância.

E falo da minha ignorância 
como algo que se baseia
em todas e tantas coisas
que existem
e eu ainda não sei,
coisas que serão pesquisadas,
analisadas, experimentadas,
coisas para os próximos 100 anos.

Ainda ignoro muitas coisas,
muitas coisas maravilhosas,
quase inacreditáveis,
surpreendentes,
ou mesmo coisas simples
mas poderosas
e intensas.

Houve uma época
em que fingia saber tudo,
era uma forma de não ser achatada
pela grande pressão atmosférica
da vida adulta.

Então percebi
que não é ruim não saber,
não é destrutivo ou pecaminoso,
feio é negar que não tem nada além
do que já sabemos,
negar milhares de outras
realidades.

Mas também é feio
fingir que ainda se acredita em coisas
que não existem mais,
nunca existiram
ou tiveram sua data de validade mental
expirada,
fingir fé por algo
que já morreu a muito tempo,
adorar um idolo
que nem sabemos mais
o que significa.

Não consigo mais
amar a imagem do panfleto,
as palavras desconexas
dos livros de ficção
da antiguidade,
não me contento
com a promessa apenas,
não me sustento
apenas de energia.

Um dia minha ciência
foi a religião,
agora minha religião
é a ciência,
amanhã não sei
o que será,
talvez pique esconde,
amarelinha,
talvez uma poesia
de Florbela Espanca,
quem sabe um x-burguer duplo
do Burguer King.

Quero a vida não condicionada,
a vida que viaja
por todas as idéias
e palavras,
a vida que existe
além da minha ignorância.

San, 07/01/2013