E quando ao tirar o dreno
de mais uma operação
me afirmaram - não vai doer não!
Soube na hora
que mais uma marca
carregaria
Tamanha covardia e insensatez
julgar a sensação do corpo do outro
O que dói, incomoda, assusta
causa asco, lamuria,
deixa trauma.
Todos sabem dizer
de mim mesma
sem nem me conhecer
A norma parece ser
desumanizar para curar
E assim esperavam me ver
experimentar a dor
como talvez o prazer
ansiosa pelo que me consumia
Ao gritar
fui prontamente repreendida
pois não se deve
expor ao mundo
as feridas
Gente forte
bem resolvida
deve engolir e aceitar
Gritei então
o manifesto do meu corpo
para romper as amarras
de todos que tanto
já doeram
em silencio
San, 15.12.2024