domingo, 15 de dezembro de 2024

Manifesto do meu corpo


 

E quando ao tirar o dreno
de mais uma operação
me afirmaram - não vai doer não!


Soube na hora
que mais uma marca
carregaria


Tamanha covardia e insensatez 
julgar a sensação do corpo do outro


O que dói, incomoda, assusta
causa asco, lamuria, 
deixa trauma.


Todos sabem dizer 
de mim mesma
sem nem me conhecer


A norma parece ser 
desumanizar para curar 


E assim esperavam me ver
experimentar a dor 
como talvez o prazer
ansiosa pelo que me consumia


Ao gritar
fui prontamente repreendida
pois não se deve 
expor ao mundo
as feridas


Gente forte
bem resolvida
deve engolir e aceitar


Gritei então 
o manifesto do meu corpo
para romper as amarras
de todos que tanto 
já doeram
em silencio





San, 15.12.2024