sábado, 22 de abril de 2017

Notas da prisão 2



Se ainda caminho livre
é porque não fui longe o suficiente

Se os sons saem da minha boca
sem um choque intenso e curto
é porque não estou falando de nada
são banalidades permitidas e estimuladas

Uma vez cheguei a beira do abismo
e a beleza era surpreende  
intensa e envolvente
por isso entendo quem se arremete
quase aconteceu comigo 
mas não sou assim tão livre
corajosa, impávida, louca-transcendente

Se ainda escrevo todos os dias
é porque não cheguei ao amago da letra
naquele ponto onde se escreve com sangue vivo
o mesmo que todos os dias pinga das sarjetas

Não cheguei a nada que toque 
o medo intenso de ser dilacerado
a raiva profunda de não poder dilacerar
a paz de ter sido finalmente derrubado



San, 22/04/2017