terça-feira, 28 de março de 2017

Principe



Seu choro indelicado
desproporcional
invade minha cegueira 
habitual 

Não sinta dor
mas se sentir não fale
não reclame
mas se o fizer
que seja nos momentos 
da propaganda 

Assim que a mamãe gosta
fillho amado
inexistente



San, 28/03/2017

Já vai



Temos que esperar pelo seu milagre?

Sangrar, urrar, mancar
correr em volta do próprio rabo

Enquanto você dá um ponto a mais
nessa loucura compartilhada

Essa calma que você deseja 
é como um grande buraco
que engole a esperança

Picles de café da manhã
botas sujas no café
água na sarjeta
é nossa vida



San, 28/03/2017

Respostas



O tempo das certezas se acabaram
sobraram os cacos de vidro

Tenho que seguir descalça
para me sentir autentica

O tempo das respostas se foi
o grande silêncio dança a minha volta

O Nós nunca foi presente
mesmo quando o Eu não estava aqui

Essa história não acaba no tormento
e nem começa de outro crescimento

A vida é por vezes indelicada
nos seus planos 



San, 28/03/2017




segunda-feira, 27 de março de 2017

Confronto



Eu quero conforto

Comigo mesma
com todas as parte 
que conheço ou não
que aceito ou não

No dia a dia
pensamentos 
corpo
sensações

Que venha o conforto

A estrada reta 
iluminada 
cheirosa 
certa

Que eu não caia 
que não me engane
que tudo saia bem 
como deveria ser 


E como pode ver
são parecidos
as vezes sim

Esse conforto
será que vem 
depois desse 
confronto?



San, 27/03/2017

Conforto



As coisas estranhas
que passam pela minha cabeça
de vez em quando ficam para a ceia

Parece que precisam ser consoladas
parece que precisam ser avaliadas
parece que precisam ser conhecidas
parece que precisam ser admiradas

As coisas estranhas
que giram em volta do meu dia
do meio dia a meia noite e meia
me deixam assim desorientadas

Eu pensava juro que pensava
que já tinham sido consertadas

As coisas estranhas que eu carrego
em todos lugares a todos momentos
de todas as formas em cada pensamento
de vez em quando elas me dizem
coisas que tem sentido
mas não quero senti-las
não quero mais

Eu pensava juro que pensava
que tivesse algum remédio
que pudesse confortá-las



San, 27/03/2017

Fechado em nome de Jesus


Não adianta bater a porta
pois o demônio nunca esteve lá fora

Para que mais uma tranca
uma prece, um pedido, uma suplica?

Se tirar aquilo que você diz que sente
sem colocar nada mais no lugar
com certeza todos nós teremos paz


San, 27/03/2017

What's your problem?


Nem tente projetar em mim
aquilo que não reconheço

Não quero seus pedaços
seus cacos de destruição

Porque a vida pode ser assim
para todos hoje e amanhã 
e para todos sempre

Pare de tentar jogar no ventilador
essa obscena e estranha dor
que eu não sinto

Como você não sente as minhas 
porcas parcas partes produzidas
pelas ilusões tão tolas tão profundas

Nem tente projetar em mim
não sou seu alvo

Nem tente projetar em mim
não sou seu animal de sacrificio

Nem tente projetar em mim
não sou seu santo
e nem seu demônio

Não quero nada mais
não quero nunca mais
não quero ser nada 
com você



San, 27/03/2017

Por um breve momento



Apenas mais uma mentira
apenas mais uma
antes que venha a noite
que venha o grito

Esse é um breve silêncio

Antes que a dor seja derrubada
e se espalhe por toda vizinhança
que observa muda e impávida

Apenas mais uma musica
uma prece louca sentida de dor aguda
apenas mais uma

E eu vou para cozinha 
e derrubo os garfos
quieta diante do impacto
ali nem nada sem tudo ali
distante presente onisciente
da onipotência da excrescência

Esse é um breve momento



San, 2703/2017


segunda-feira, 6 de março de 2017

Eu vejo


Quando eu quero realmente enxergar
vou para dentro de mim

Fecho os olhos
não ligo o som
calo a boca
desligo o celular
mantenho tudo distante

As vezes deito
em outras sento
confortável ou desconfortável
conforme o momento

E então mergulho 
no grande escuro

Onde não existem perguntas
metas, desejos, imagens

Não tem um chegar ou sair
nada a fazer ou já feito
perdas ou acréscimos 

E naquele grande nada
que não se identifica como nada
e nem como qualquer coisa
eu vejo

Eu vejo
não uma forma
uma coisa qualquer
identificável

Eu vejo finalmente
eu vejo completamente
eu vejo



San, 06/03/2017

888


Já por 888 vezes eu levantei
minha alma escrita

Levantou de onde?

Poderia pensar você que não questiona

Do marasmo, do caos, da banalidade?

Da melancolia, da ignominia, da servidão?

Da separação, do esquecimento, do tormento?

Da desfaçatez, insensatez, estupidez?

Talvez seja de um lugar material

Então do lavabo, da cozinha, da escola,
da soleira da porta, da fila do banco,
da cadeira do dentista, do quarto do motel,
do inferno, do céu?

Que importa donde esta ou donde esteve

Esta de pé me observando e cantando
as musicas que eu não conheço
mas sempre soube
as coisas que nunca vi
e não esqueço



San, 06/03/2017

Na poeira


Daqui dessa quina da vida
a unica visão que tenho
é um reflexo rápido-perdido
da poeira da estrada

Mãe será que era ela?

Pai quem passou por aqui?

Um brilho reluz e some
e essa duvida me consome
de noite e dia e dia e noite
questiono, empaco, observo, relato

Mãe e Pai já se foram,
os amigos estão distantes,
família nem te conto
nunca subi nesse mirante.

Será que um dia a vi?

Ao menos que existiu?

Persisto nesse caminho
ou levanto e sigo sozinho?

Na poeira das estrelas
todas respostas estão
mas não consigo ouvi-las
dentro do meu coração.


San, 06/03/2017

sábado, 4 de março de 2017

Antes que venha a noite



Por obsequio
me deixe assumir
minha tristeza

Encarecidamente lhe peço
um passe livre
para essas lágrimas

Guardar mais tempo
é como sacudir o vento
impossível ter esse domínio

Sei que fui a mestra do teatro
a senhora das mascaras 
a tutora da lenga-lenga 

Fazer o que agora?

Melhor guardar do que jogar fora?

Não posso mais viver nos pés alheios

Por obséquio me deixe assumir
meu destempero


San, 04/03/2017

Na cozinha


E a pia está novamente entulhada
de loucas louças abandonadas a lavar
esperando triste ansiosa ele chegar

Ele tem um rosto vincado de antigos cometas
naquele porte de gente tarimbada que pouco sorri
com a qual podemos contar nos piores momentos 

Sonhos sonhando sonhos 
tantas vezes me coloquei aqui e ali
em lugar algum lhe garanto

É no abstrato imponderável 
que as coisas emocionantes acontecem


Daqui a pouco ligarei o radio 
para escutar alguém que nunca vi mas é especial para mim
falar igualmente algo que nunca ouvi mas sempre soube

E as louças vão magicamente se lavando
dentro desse vácuo absorto 
que é a minha louca louça vida


San, 04/03/2017

Balada da alma perdida


Você com tamanha alegria
constrói esse mundo triste

Venho agora com minhas lagrimas
destruir suas esperanças

Eu falo com meu corpo mudo
sua cegueira não me escuta

Você com tamanha alegria
entorta esse mundo lindo

Venho agora com minhas poesias
apontar todos seus erros

Eu grito com meu corpo mudo
sua cegueira não me escuta

Nunca chegaremos a um acordo
eu corro onde você para

Nunca chegaremos a um acordo
eu paro onde você corre

Eu canto com meu corpo mudo
sua cegueira não me escuta


San, 04/03/2017

Meteoricamente falando


Enfim chegou 2017

Impossível segurar tamanha dor

se desloca

subloca outro ser

viaja pelo universo

mas um dia volta

rompendo a atmosfera

mentirosa

de paz construída

sobre pedras pontudas




Enfim chegou 2017

esbarrando nas paredes

da desarmonia

derrubando os livros

levantando a poeira

apontando o mofo

indelicado sujeito

essa dor que não tem jeito



San, 04/03/2017

Mãe 4



Se agora Inês já é morta
por que então acorda-la
por que lhe preparar um lugar a mesa
por que lhe render espaço?


No máximo
pelas verdades dos fatos
 homenagem póstuma

É essa a pergunta 
que não cala
que cutuca
e fica murmurando ao fundo
de toda conversa
de cada respiração

Quero encontrar o interruptor da dor
a caixa de luz e tirar todos os fusíveis
derrubar o poste se for preciso

Que venha o escuro que alimenta
a falta de imagens que atormentam

Que venha!

Que venha!

Pois pior que ser parido
com a agonia de não ser querido
é nunca ter partido
desse sentido


San, 04/03/2017

Ainda não é o momento


Ainda tem muitas mentiras
que infectam meu coração
mas não chegou a hora
ainda não

Queria acordar desse pesadelo
que alguns chamam sonhos
e muitos acham magnifico
se iludirem um pouco mais

Amanhã ainda não vai ser o dia
e hoje eu espreito a porta novamente

Amanhã ainda não vou estar inteiro
e as roupas antigas não servem mais

Ainda existem muitas mentiras
que voam ao meu redor
acendendo luzinhas coloridas
para enganar os tolos humanos

Amanhã ainda não vai ser o dia
e hoje essa caixa esta apertada demais

Amanhã ainda não ser o tempo
em que eu possa voltar
em que eu possa
em que 
eu



San, 04/03/2017