segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Inferno



A mesa esta vazia de convites
a mesma mesa 

A minha vida tem sido palpite
a mesma vida

Meu coração não canta mais
cansei de ser ouvinte
cansei de ser aborrecida
cansei de ser intensa
correta incoerente

A mesa tem uma perna capenga
igual a minha vida
tantas delongas
tantas conjecturas
tantas brechas
entremeadas de nervuras
e queimaduras
profundas
e superficiais

Todos os dias um inferno
todos os dias
sempre iguais



San, 17/10/2016


No direction



Eu desejo
não ter mais desejos
sentir o não sentir
calar a palavra
que não quer sair
não precisar provar
mais nada
para aquele ser
imaginário
que nunca esteve
aqui

Preciso de algo épico
para criar um contexto
onde possa fazer
um arremesso
sem direção
e acertar
o alvo

Todos que mentem sabem
que acabamos acreditando
na insanidade
como fórmula
para a liberdade

Tem algo mais 
que deve ser feito
e muito mais
a ser desfeito
para estar completamente
imperfeito
e mesmo assim correto

Se livrar 
da forma certa
na direção errada
e enfim
não ser mais nada
de nada
que possa 
identificar


San, 17/10/2016

Bafio


Às vezes eu leio minhas poesias
e me surpreendo

Quem é essa pessoa?

De onde vem com seu verbum intenso, 
decaído, denso, apoplético?

Como surgiu essa louca-maravilha-solta
que se derrama na tela?

Conheço e desconheço esse tom,
mas pressinto, intuo, incubo.

Será um dom 
como vestir uma pele 
de outra lira?

Fico a ler o que escrevi
para captar essa pessoa 

E enfim poder traze-la 
para habitar o aqui
livre, inteira, feliz


San, 17/10/2016