sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

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Cresci virada para o leste
tecendo sonhos obscuros
sendo feliz nos poucos minutos
que antecedem o raiar do sol
quando todos bons e maus
ainda estão dormindo

Não tive pai conhecido
nem mãe reconhecível,
minha família foi a rua,
ampla, perigosa, maleável, 
onde me abrigava e fugia,
brincava e aprendia,
me deleitava e sofria.

Conheço todas as mentiras
e as verdades ingênuas,
sorte, azar, destino, carma
caminhos seguros 
e pontiagudos abismos,
o sorriso da morte,
a lágrima da vida.

No dia que meu livro se acabar
as paginas amareladas,
ticadas no canto,
entregarei minha pena
a algum desconhecido,
sairei como o vento
invisível, fresco, silencioso,
para habitar o infinito.



San, 01/01/2016