Às vezes tento fazer da minha vida uma descida
querendo poupar as costas, joelhos e artelhos,
mas acabo tropeçando e rolando como uma bolinha
batendo nas quinas dos problemas cotidianos
queimando a pele e arrancando lascas de velhas feridas
Então me destempero fula da vida
quero me afastar de tudo e parar de vez
fico magoada com o mundo ser do jeito que é
esqueço meu poder e entro no modo vitima
me sinto como a última das malfadadas heroínas
No dia seguinte o sol desponta como todos os dias
e todas as coisas acontecem como tem que acontecer
acordar, meditar, comer, escovar os dentes, ler, escrever
limpar a casa, brincar com os cachorros, cuidar do jardim,
assistir um filme ou série, ler um texto interessante, estudar,
descansar, refletir, ponderar, observar, evoluir, estar atenta
E aquela magoa intensa de criança birrenta vai esvaindo
vem o cantarolar animado e despreocupado no chuveiro,
palavras certeiras e suaves durante uma meditação guiada
a tranquilidade estranha de quem já sabe tudo e tem paciência
a animação e vontade de conversar com os amigos
Surge a avó que ri ao invés de ralhar pois tem entendimento
novamente abraço aquilo que me foi dado por mim mesma
a vida ora picos íngremes e ora desertos a sumir de vista
agora de mãos calejadas, visão clara e pele curtida
começo novamente a fazer planos e desejar a vida
San, 19/01/2016