domingo, 31 de janeiro de 2016

Retifica

Aperto o parafuso 
e nada!

É um vai e volta
sobe e desce
sem finalizar
que me enraivece
e desgasta.

Não conformada
desmancho 
a engrenagem,
meço, limpo, lubrifico
troco pedaços,
remonto.

Impregnada de certeza
com firmes mãos 
de esperança
me lanço 
em nova 
empreitada.

Tola incorro
nos mesmos hábitos.

Agora me dou conta:
- A minha vida 
está espanada!



San, 31/01/2016

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Faça amor não faça guerra 2


Quem não tem amor, 
entendimento, carinho, aceitação,  
e respeito por si mesmo
provavelmente não o terá
com os animais

Porque quem se tortura
por ser o que é
não pode aceitar a vida
tranquilamente acontecendo

Tem que colocar defeitos,
temores, achar problemas,
causas de raiva e desgaste
naquilo que esta a sua volta

Os cães latem demais,
os gatos passam doenças perigosas,
os pássaros evacuam nos carros,
os insetos picam e incomodam,
os macacos são fedidos e barulhentos,
os morcegos são feios e assustadores,
as formigas se intrometem no açucareiro,
as cobras são venenosas e repelentes,
os gambás são estranhos e agressivos...

Cada bicho que puder lembrar e citar
tem algo perigoso, incomodo, negativo 
que lhe faz persona no grata
no mundo que é exatamente dele

É assim que pensa e sente
a pessoa vazia, amarga, egoísta,
a pessoa distante e desmemoriada 
do seu próprio valor e força interior
para quem não provou do amor essencial
tudo é grotesco, estupido e banal




San, 19/01/2016

Faça amor não faça guerra


Não contente em tentar emudecer
os diversos pontos de vista e valores
algumas pessoas também querem calar
os cachorros, passarinhos, cavalos, gatos,
o vento, o trovão, a chuva, toda a natureza

Impensável para elas que o mundo 
tenha recebido o direito a sua voz
irritante para elas que essa voz esteja ativa, 
inimaginável que seja profícua

Não querem som algum
além da enfadonha lenga-lenga
da pessoa estupida, violenta
 e mal resolvida



San, 19/01/2016

Tropeços


Às vezes tento fazer da minha vida uma descida
querendo poupar as costas, joelhos e artelhos,
mas acabo tropeçando e rolando como uma bolinha
batendo nas quinas dos problemas cotidianos
queimando a pele e arrancando lascas de velhas feridas

Então me destempero fula da vida
quero me afastar de tudo e parar de vez
fico magoada com o mundo ser do jeito que é
esqueço meu poder e entro no modo vitima
me sinto como a última das malfadadas heroínas

No dia seguinte o sol desponta como todos os dias
e todas as coisas acontecem como tem que acontecer
acordar, meditar, comer, escovar os dentes, ler, escrever
limpar a casa, brincar com os cachorros, cuidar do jardim,
assistir um filme ou série, ler um texto interessante, estudar,
descansar, refletir, ponderar, observar, evoluir, estar atenta

E aquela magoa intensa de criança birrenta vai esvaindo
vem o cantarolar animado e despreocupado no chuveiro,
palavras certeiras e suaves durante uma meditação guiada
a tranquilidade estranha de quem já sabe tudo e tem paciência
a animação e vontade de conversar com os amigos

Surge a avó que ri ao invés de ralhar pois tem entendimento
novamente abraço aquilo que me foi dado por mim mesma
a vida ora picos íngremes e ora desertos a sumir de vista
agora de mãos calejadas, visão clara e pele curtida
começo novamente a fazer planos e desejar a vida




San, 19/01/2016

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Catarse


Esmiúço o amor que recebi
consciente e inconsciente

Gestos, palavras, tiques
conceitos, ideias, desejos,
imagens, projeções, visões

O que aprendi ou desaprendi
em casa, na rua, nas revistas,
filmes, canções, na prática 

Quanto de amor tem um beijo,
um abraço, um aperto de mão, 
um bom-dia, um sorriso?

Quanto de amor perdi
na desconfiança, mentira, sarcasmo,
no ignorar, na intriga, numa briga?

Mãe, pai, irmãos, avós,
havia ou não havia 
amor ali?

Amigos, namorados, marido, filho,
um olhar desejoso ou esquecido,
fraterno ou permissivo?

Parte por parte
observo, desdobro,
identifico e remonto
esse amor catarse



San, 18/01/2016

Movimento 4


Não tem como burlar  
o mecanismo interno
e adiantar o tempo 
apressando o tanto 
que ainda tenho

Mas eu tento
sempre tento tanto
até ficar tonta
e não saber ao certo
o que me eu fiz de errado

Cada compasso acontece
dentro de um movimento
universal, desconhecido, genial
interno, eterno, sem tempo

E eu sacudo a mente
para ver se posso
ver com mais clareza
conseguir certezas
e chegar ao tanto que ainda tenho
sem precisar da dor,
espanto ou tristeza,
e me livrar daquilo
que me faz sem nexo

Não tem como burlar
o mecanismo interno
pulando barreiras
e me livrar do tanto
que ainda tenho
sem sofrer os danos
da inconsciência




San, 18/01/2016

domingo, 17 de janeiro de 2016

No thanks


Amigo o que me provocava dor
não era pensar que não conseguiria
mas acreditar que precisava

É pacífico viver sem ilusões

Apenas olho as estrelas
sem querer algo delas
apenas olho o mar
sem categoriza-lo
apenas olho as nuvens
sem questiona-las
apenas olho as pessoas
sem tentar entende-las

Quero viver assim
sem expectativas
sem julgamentos
sem exigências
sem modelos
ou proteção 
contra a vida



San, 17/01/2016

sábado, 16 de janeiro de 2016

Pintura


O paraíso não é um lugar
mas um estado de ser

Tenho dentro de mim muitas moradas
algumas recém construídas
outras abandonadas

O inferno não é quente
quando estamos sozinhos
desejando aconchego
vivendo de repudio e desejo

Nadando no lago do yin e yang
mergulhando e boiando
não lembro da minha força
mas conheço a minha fraqueza

Sou uma alma perdida
que não deseja ser encontrada

Sou uma alma doente
que se especializou 
em curar feridas



San, 16/01/2016

Reencarnacion


Quando você atravessar o portal
não se lembrará mais da motivação
que lhe empurra veementemente agora
não se lembrará da determinação
que lhe fez escolher as situações futuras

Então irá fazer muitas perguntas duras
irá chorar sentindo raiva de si mesma
deitar desejando não acordar
e acordar não sabendo
como fazer melhor

Mas se mantiver a mente aberta
o espirito destemido
e o coração bondoso
saiba que chegará
aquele tão almejado lugar 
de pura paz



San, 16/01/2016

Forgiveness


Perdoar é honrar a própria vida
mesmo fria, indelicada, dolorida
é fazer de si menos vitima
e fazer do outro menos monstro

Vou tecendo palavras suaves
cozinhando emoções nutritivas
desbastando os espinhos 
das minhas feridas

Perdoar é honrar a própria vida
mesmo confusa, errante, espremida
é trazer para si estranha força
é trazer para o outro algum conforto



San, 16/01/2016

Descanso


Eu preciso olhar para trás
para conseguir seguir em frente
sei que você desaprova isso

Preciso saber de onde vim
e o que deixei para trás

Sentir raiva, angústia,
amor, saudades, medo, alegria,
tristeza, desespero

Gritar, cair no chão, chorar
dessa vez com entendimento
de tudo que fiz e fui

E finalmente descansar
soltar as bagagens antigas
e conseguir passos leves



San, 16/01/2016

Remembering



Eu quero lhe contar 
uma história antiga
você provavelmente 
já a ouviu de muitas formas

Não é a sua história
mas em muitos momentos 
irá parecer

Não é a minha história
mas sei realmente como se sentiu
cada um dos personagens

Venha comigo até a beira do muro
onde poderemos nos perder nas memórias,
risadas, lágrimas, surpresas, saudades

Ela plantou uma árvore quando ele foi embora
e conforme crescia e os pássaros a visitavam
as palavras que levavam a ele
 foram se desdobrando como as folhas
e caindo em cada novo outono

E todas as noites onde estivesse
ele observava as estrelas 
refletindo que nada realmente dera errado
mas nada realmente dera certo
e sentia que naqueles momentos
estavam de mãos dadas

Então o mundo cruel
como uma grande onda 
arrastou sem defesa
todos os amores velhos
de jovens pessoas
e esmigalhou sem pudores
todos os jovens amores 
de almas antigas

Escute o canto
são tantas vozes que estão ali
de muitas vidas consumidas
todos tolos sonhos esmaecidos



San, 16/01/2016

domingo, 3 de janeiro de 2016

Natadera


Na primeira vez que transpus 
esses portões sagrados

Me vestia como um nobre
portava uma espada
e tinha o coração pesado

Na segunda vez
me vestia como um mendigo
portava um bastão
e tinha o coração vazio

Na terceira vez
fiquei apenas do lado de fora
portava o antigo Juzu do meu avô
e tinha o coração de um passarinho




San, 03/01/2016

Taung Kalat


Por 777 vidas 
expurguei minha ignorância
colhi meu carma correspondente
e nutri as regras puras

Então estou aqui
procurando o que não conheço
abismada pelo que já sei
temerosa pelo que vira

Tenho 777 perguntas
e um joelho destruído
pelo caminho que já trilhei
cega, na tempestade, doente, de noite

Quando olho as escadas
me pergunto quantas vezes a desci
envergonhada de mim mesma
e quantas vezes a subi
plena de esperança.




San, 03/01/2016

sábado, 2 de janeiro de 2016

José

Joseph Dwyer carrega um menino ferido para longe do fogo, procurando um lugar seguro (Guerra do Iraque, 2003)


De repente "o outro" desaparece
e um filho é apenas um filho.

Para isso existem braços fortes,
senso de direção
e homens não corrompidos.


San, 02/01/2016

Profundo profano - Instinto

Um soldado bósnio cuida de um bebê salvo durante a evacuação de Gorazde (1995)


Mesmo a guerra não subverte bons corações
e pode parir mães entre homens
em meio a intensa insanidade
o instinto da vida se revela.



San, 02/01/2016

Profundo profano - Civilização

Um nativo de Papua Nova Guiné  acompanha um soldado australiano ferido para fora da mata (Segunda Guerra Mundial, 1942)


Selvagens não são grupos
mas sentimentos,
pode-se encontrar
exemplos de civilidade
em homens despidos
da modernidade.




San, 02/01/2016

Profundo profano - Desobediência

Um soldado da Alemanha Oriental ignora as ordens de não deixar ninguém transpor o Muro de Berlim e ajuda um menino a passar. Ele foi encontrado do lado oposto onde sua família estava (Guerra Fria, 1961)


Ás vezes a ordem deve ser ignorada
em favor da vida
porque a ordem é estática
mas não a vida.



San, 02/01/2016

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Ray

Jornalista Raymond Walker corre através de uma ponte na França com uma criança que ele salvou da Guerra Civil espanhola. [1936]


A ventura da corrida
não esta na chegada
e nem na partida
mas na força empreendida
por manter o coração
aberto ao amor
em meio ao cataclisma.


San, 01/01/2016

24 de dezembro de 1914


Uma partida de futebol começa entre soldados britânicos e alemães na frente ocidental quando abandonam suas trincheiras

De ao homem uma bola
e ele esquecerá os motivos do ódio,
porque a guerra e a morte é escolha
dos grandes homens
e a boa vida dos pequenos



San, 01/01/2016

Amor em meio a loucura


Quando dividimos dor horrenda
desejamos curar todos os seres
dos efeitos dessas contendas

A morte de um se torna
a perda de todos
e a salvação de um
o ganho do mundo



San, 01/01/2016

Virtuosi prattici


Todos sentem fome
todos sentem sono
todos precisam de apoio
todos precisam de abrigo
estranhos ou inimigos

O zelo pela vida
empurra o mundo mil anos
não precisa de vencedores
e nem vencidos




San, 01/01/2016

Paixões


Com paixão erro
com paixão acerto
com paixão desperto

E assim finalmente 
em mim e em tudo
rompo o elo
que me mantém 
atado ao tédio



San, 01/01/2016

Automaten


Cresci virada para o leste
tecendo sonhos obscuros
sendo feliz nos poucos minutos
que antecedem o raiar do sol
quando todos bons e maus
ainda estão dormindo

Não tive pai conhecido
nem mãe reconhecível,
minha família foi a rua,
ampla, perigosa, maleável, 
onde me abrigava e fugia,
brincava e aprendia,
me deleitava e sofria.

Conheço todas as mentiras
e as verdades ingênuas,
sorte, azar, destino, carma
caminhos seguros 
e pontiagudos abismos,
o sorriso da morte,
a lágrima da vida.

No dia que meu livro se acabar
as paginas amareladas,
ticadas no canto,
entregarei minha pena
a algum desconhecido,
sairei como o vento
invisível, fresco, silencioso,
para habitar o infinito.



San, 01/01/2016