segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Todas as coisas dizem "Não"



Todos os sabores 
se perderam abruptamente,
como uma chuva de pedra 
caindo em meio a sala.

E assim eu inventei o prazer 
daquilo que nada tem
nem substância, nem cheiro, 
nem acido, doce ou azedo.

Tolhida estou pelo inexorável e curto
caminho das dores cotidianas,
passagem estreita entre a perda e a cura,
um alfinete que pinica e não se acha
e se encontra mas não se tira.

Eu sou uma pessoa de sentir,
mesmo depois de sair da barriga da mãe
nada mais aprendi a fazer.

Tenho sentido a tanto tempo
que me agreguei a todos os sabores
até mesmo os desagradáveis.

Então agora eu perdi meu alguém,
é de difícil entender a quem se expressa
por tantos outros mecanismos,
aquele que vê a vida, 
cheira, toca, pondera, escuta,
tantas dimensões existem
mas eu sempre fui uma especialista.

E esse é o perigo do mergulho profundo,
talvez nunca se volte,
talvez nunca se adapte a superfície.



San, 22/11/10