segunda-feira, 22 de novembro de 2010

SAMADHI


Eu proponho o adormecimento,
sair do estado de alerta,
ideias, fé, conceitos, direção.

Ser tomado por um sono profundo,
sem imagens, sensações, cotidiano,
sem conhecimento de si ou do outro,
sem saber do corpo, do ontem,
sem despertador.

Deitar assim sem expectativas,
se afastando de tudo
identidade, desejo,
proposta, meta, objetivo.

Nada seja, nada veja, nada busque,
nada encontre no nada que lhe abraça,
apenas se misture a essa graça
do interromper da consciência.


San, 10/10/10

Todas as coisas dizem "Não"



Todos os sabores 
se perderam abruptamente,
como uma chuva de pedra 
caindo em meio a sala.

E assim eu inventei o prazer 
daquilo que nada tem
nem substância, nem cheiro, 
nem acido, doce ou azedo.

Tolhida estou pelo inexorável e curto
caminho das dores cotidianas,
passagem estreita entre a perda e a cura,
um alfinete que pinica e não se acha
e se encontra mas não se tira.

Eu sou uma pessoa de sentir,
mesmo depois de sair da barriga da mãe
nada mais aprendi a fazer.

Tenho sentido a tanto tempo
que me agreguei a todos os sabores
até mesmo os desagradáveis.

Então agora eu perdi meu alguém,
é de difícil entender a quem se expressa
por tantos outros mecanismos,
aquele que vê a vida, 
cheira, toca, pondera, escuta,
tantas dimensões existem
mas eu sempre fui uma especialista.

E esse é o perigo do mergulho profundo,
talvez nunca se volte,
talvez nunca se adapte a superfície.



San, 22/11/10

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ato de fé em meu próprio coração



Não se abale, não se perca, nada tema,
piores ventos sopraram pela sua casa,
agitaram as cortinas e emoções,
bateram na porta do dia a dia, 
e mesmo que lhe pareça
tão longos momentos
tudo se foi.

Conhecimentos agora você tem
muitas dores, 
tantas circunstâncias,
nem por isso você é dor.

Crescer é um ato de descobrir e usar
todas as cores que pintamos a vida
e lembrar que nem todas
são claros tons.

Às vezes nos deparamos com situações
em que ficamos a beira da desintegração, 
mas como a areia da praia,
cada grão constrói uma enseada,
ainda confio em você.



San, 21/07/05

PARA COMPOR A VIDA



Para compor a VIDA
é necessário um tanto de VERDADE,
um pouco de INCOMODO,
DETERMINAÇÃO em baldes,
ACEITAÇÃO em termos.

Como uma colcha de retalho,
em que pedaços desconexos,
isolados e tão diferentes,
vão compondo coisas coerentes,
e assim tudo tem sua função,
lugar e motivo no final.

Para compor a VIDA
vamos precisar de uma pitada de VIGOR,
uma imprescindível INCOERÊNCIA,
DIÁLOGO certamente,
AMPLITUDE em todos os momentos.

Bordando,
ponto a ponto,
tão imperceptível,
apertadinho,
dia a dia,
monótono movimento,
imagens sonhadas,
coisas impossíveis.

Para compor a VIDA
VARIAÇÃO é necessária,
IDONEIDADE em alguma coisa,
DESTEMOR e até, por que não, DESATINO,
ASSIMILAÇÃO, ATUAÇÃO, APROXIMAÇÃO.

Como uma semente dormitando
esperando o melhor momento,
terra, água, luz,
despreendimento,
esperança,
o primeiro movimento.

Para compor a VIDA
mesmo que seja já velho,
vivido e vacinado,
não tem formula melhor
do que abandonar os vícios,
velhos hábitos emocionais
que translamos de tanta gente,
enfrentar as vicissitudes,
se vincular apenas ao que dá paz e confiança.

IDEALIZAR é realmente importante,
mas Ideologias devem ser libertadoras
e não limitantes,
não se prender a idade,
identidade, idolatria,
manter em mente o senso de IGUALDADE,
tudo mais é ilusão.

Se desligar de coisas daninhas,
desqualificantes, descartáveis, degeneradas,
não ter medo de usar da DELICADEZA,
se permitir o DELEITE.

Pois a vida é isso,
realizada com APRUMO,
APTIDÃO, AMBIENTAÇÃO,
algumas gotas de ANARQUIA,
AUXILIO sempre é bem vindo,
e grandes doses de AMOR.

San, 22/12/2004