Fantoches

 Eu quero abortar

esse corpo roto

que não reconheço

pretensamente dado

pela força da lei humana

moralidade ou crença

Quero abortar

essa pessoa

que construí

mas que odeio

não suporto

não me reconheço

Por favor não me venha

com palavras de mentiras

falsamente doceis

para conter minha raiva

eu sempre fui contida

nunca pude ser 

todas minhas 

possibilidades

Quero criar uma passagem

rasgar esse estopo

fazer uma abertura

fugir dessa servidão

desse teatro de fantoches

que tem sido

minha vida

San, 30.09.2025

Borderline 4

 

No começo da minha  vida

tive que agradar muito

todas as pessoas ao meu lado

simplesmente para sobreviver

física e emocionalmente

Eu tinha inimigos

e não aliados

eu tinha cobradores

e não amigos

eu tinha a raiva

a inveja

o desprezo

daqueles que deveriam

me proteger

Por isso eu aprendi

a ser disponível, agradável, amigável

mesmo quando meu coração 

esta sangrando

cheio de lixo tóxicos

meu corpo esta pesado

frio e dolorido

Eu não quero mais viver assim

não quero mais sentir 

que a minha vida é dos outros

como antigamente

quero que a minha vida

seja minha

finalmente

San, 30.09.2025

Tropeçando entre lapsos

 

eu continuo caminhando

enquanto todas as coisas 

vão caindo

dos meus bolsos

Avó

eu não lhe ouvi

e fiz todas as coisas ruins

para todos nós

continua doendo

mas eu não 

me preocupo mais

com nada disso

se estou vivo ou morto

se vou chegar ou cair 

a qualquer momento

Mãe

eu não lhe conheci

mas parece que continuo

lhe seguindo

Tropeçando

jogando para longe

todas as boas coisas

abraçando a escuridão

Desculpe

mas não posso lhe amar

Desculpe

mas não aprendi a me amar

Desculpe

mas não consigo entender

as coisas que voce me diz

Tem tantas coisas

a minha volta

me segurando

me puxando

gritando

dentro de mim

San, 06.09.2025