quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Partenogênese

 


E de repente toda a malignidade se dissipa
e uma grande paz advém e se acomoda
onde antes havia somente turbulência


Achava eu que estava contaminada
por toda raiva que fui colhendo pelo mundo
mas percebo agora que era apenas uma ausência


A menina dos sonhos acordada
a adolescente compadecida que escutava
a mulher que acolhia as diferenças


Onde estiveram nesses tempos soturnos e estranhos
talvez protegidas ou apenas dormitando
ou dentro de um ovo que agora se parte e vem a vida


E no silêncio eu me despeço dos meus monstros
esses que me serviram um tempo de guarida
e agora finalmente seguem outros rumos



Enfim
estou
parida



San, 30.10.2024


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Oktubri

 


Outubro que mês horrendo
em cada ponto um desgosto
carregando tanto encosto
que me vergo na bigorna


A insonia batendo ponto
quando não os pesadelos
me atropelam e desgastam
acordo rabugenta e dolorida
que vida a toa e fudida


Já vivi muitos outubros
e novembros, dezembros 
tudo contando dinheiro
sobrando gastos e contas
faltando amizade
sobrando amarguras 
e lembranças


Melhor a morte me diria
ela vira tenho certeza um dia
e ai finalmente de braços dados
chutando esse corpo
sera novamente
apenas janeiro




San, 01.10.2024

Não tem nada a ver com você



Talvez não tenha 
compreendido 
então confirmo
não quero sua consideração
sua atenção, seu visco


Estou aqui porque preciso
eu vivo a me bater na janela 
como um pássaro
para me livrar 
dos piolhos mentais
adquiridos


Não sou auto suficiente
especial, melhor, em outro nível
não tenha grandeza alguma
não luto, não enfrento
nem me comparo



O que escrevo
sinto, falo e afirmo
é apenas 
para mim 
mesma
nada contigo




San, 23.10.2024

Religio est cancer




Eles prometem
coisas que não podem lhe dar
que não existem aqui
e nem em qualquer lugar


E parecem tão belas e agradáveis
essas coisas oferecidas
que realmente fica difícil confirmar
que não precise ou as queira


Mas se atente, pare, observe
espere alguns minutos
até conseguir ver ao fundo
a imagem verdadeira



As dores, as regras, as mentiras
todas as velhas porcarias
que querem lhe empurrar
para dominar e ceifar sua vida




San, 20.10,2024


Vai a pigghiàrila 'n culo

 



Não se engane com minha falsa fofurice
sou cortante, magoada, direta, chata
meu sorriso nada mais é do que disfarce


E entro em lugares a toa e sem valor
apenas para espalhar um pouco do horror
que ainda habita meu cansado coração


Odeio seres humanos e me incluo nessa lista
as duvidas, as certezas bestiais, os erros sem conta
o ego estupido, a falsa pompa, a busca sem sentido


Nada tenho para acrescentar nesse mundo vão
nessa vida redemoinho fogo de chão
receba meu VÁ TOMAR NO CU como presente



San, 26.10.2024

Baptism in the jordan river




 Você me pediu uma poesia elaborada
logo você uma pessoa simplista
acomodada, tacanha
de poucas palavras


Então quero lhe ofertar 
em primeira mão
minha resumida visão
sobre nossa própria importância:


BATISMO NO RIO JORDÃO


Busque seu coração na beira do rio 
onde fizemos cantos e louvores para reis e sábios
apesar de sermos nós pessoas néscias e claudicantes
somos o barro sem valor que moldou os pés dos fortes

E assim agora em meio a água se libertara no ultimo mergulho
desse inenarrável ciclos de abusos, dores, duvidas e absurdos
voltando a ser apenas um frugal átomo entre tantos elétrons

Então entenda filho meu que nada esta determinado
nem perda, sorte, ganho, morte, constância, carma
a nossa vida física no entanto sempre sera essa de larva
a se arrastar no fundo da história onde nós somos nada



San, 27.10.2024

άδειο μυαλό


 
A burrice é meu Dorflex
afasta pequenos incômodos
que a lógica e coerência me causam
ao observar a dura realidade


Porque meu olhos tropeçam
se machucam e sangram



Então tomar da estupidez
traz um confortável 
senso de proteção
mesmo que passageiro



Estando apartado 
supomos que não seremos 
pegos e macerados
na massa de pão do diabólico
mundo material



Dai me sento na varanda
sem noção, sem opinião, sem decisão
apenas respirando a normalidade
da boçalidade





San, 28.10.2024






Ce n'est pas de la poésie d'amour 2



Novamente estou aqui
quebrando todas as promessas
que nunca farei mas quis
em algum tempo
de alguma forma


Você nunca foi essencial
mas nos tornamos assim
escravos da garantia
da presença vazia


Quisera ter respostas
as perguntas que nunca fiz
as certezas insignificantes
que sustentavam a vida


Falar de você
é muito mais falar de mim
das carências absurdas
herdadas ou construídas
do vazio que se expande
tal qual buraco negro voraz



Atando tudo isso 
como cola viscosa e nauseante
milênios de procura furibunda
a raiva da escolha alheia
que se apropriou
de todos os espaços



Você morreu
deitou no nada
eu morrerei
deitarei em ti



San, 25.10.2024



Lladdais i dduw

 
 O torpe entope 
todos os meios de vida
com suas asneiras
raiva, boçalidade


 Espalha sua toxidez
roubando a força essencial
do pouco que nos restou
no insano mundo atual


Não quero mais falar 
dessas sujeiras
cansei desses monólogos
viciados e sem sentido



Cansei da sua fé fóbica
do seu deus monstro
da sua palavra decorada
vazia e feia



Lladdais i dduw




San, 26.10.2024

Camminare tra gli inferni


Voltei a ter os maus sonhos
meus ciclos dantescos
que julguei falsamento encerrado 
com o apocalipse cerebral
unica vantagem dos AVC


Os lindos nadas
os brancos persistentes
tão recuperadores
o sono vazio 
de sonhos torturantes


Temo ter perdido os benefícios
da saturação física
que levou a minha criatividade
memória e atenção
mas também o pavor


E agora volto a conviver
com mais uma tipificação de dor
aquela que não se situa 
na matéria densa
e não pode ser cessada
só modulada



San, 28.10.2024