Quisera ter uma palavra
que não fosse dor
e tão terna e confortável
abraçaria com paciência
todos os seres humanos
como avó treinada no amor
Acordo e minha boca verte fel
velume mal cheiroso de dores recolhidas
tento escovar os dentes, a mente
mudar as crenças, evoluir juntamente
Tento estabelecer metas
enquanto o tempo ri as bandas da minha ilusão
desmonta minha agenda
me joga de volta no vicio da dispersão
tento agarrar alguns segundos sábios
me perco no compasso dos minutos fúteis
Quem saberia me afirmar
se esse é um erro próprio
ou a participação num transloucado
plano estupificador mundial
uma bestificação gradual
personalizada, agendada, tão comum
que não percebemos nada?
Quisera saber falar de tudo
sem me desmontar em partes desjuntadas
cauterizadas pelo passado inóspito
trazer apenas palavra por palavra
sem atas, livres e soltas
sem estar tão carregada
pelo momento acido
San, 10/04/2020